sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Recordações da casa dos mortos Jonas 2 (2ª parte)

O título se refere a obra do escritor russo Dostoiévski, uma descrição de seus anos presos nas gélidas prisões da Sibéria. Experiência semelhante foi a de Jonas. Ao invés de alguns anos amarrado pelos pés e obrigado a trabalhar, Jonas viveu, ou melhor, morreu por três dias e três noites na barriga de um peixe. A narrativa do capitulo 2 de Jonas é descrita como ser enterrado vivo. Isso já aconteceu várias vezes; desenterrar um cadáver e descobrir que foi enterrado vivo, pois o corpo está virado ou com a roupa rasgada ou ainda arranhado. Como será acordar e saber que está debaixo de 7 palmos dentro de uma caixa de madeira do tamanho do seu corpo, vestido com a melhor roupa, imprensado com tantas rosas e flores exalando um agradável cheiro “insuportável”.Jonas retrata o capítulo 2 nesses termos, só que ao invés de 7 palmos abaixo da terra, uma caixa de madeira e flores, ele esteve a “mil léguas submarinas”, numa espaçosa, gelatinosa e gosmenta barriga de um grande peixe, sentindo o cheiro de algas e restos de animais em decomposição. Acompanhe essa dramática descrição.
Palavras que descrevem o desespero de Jonas
Angústia no v 2. Ele expressou isso com as seguintes palavras: angústia, ventre do abismo. Palavras que expressam angústia e desespero: v 3 “a corrente das águas me cercou”; “as ondas e grandes ondas de Deus passaram por cima de mim” – v 4; “as águas me cercaram até a alma”; “abismo me rodeou”; “as algas se enrolaram na minha cabeça” – v 5; “desci até aos fundamentos dos montes” – v 6 “os ferrolhos se fecharam”.Jonas reconhecia sua situação de incapacidade em fazer algo por si mesmo. É nessas condições que o humilde se vê. Todos possuem suas angústias, mas somente aquele que é humilde reconhece; o pecador tenta se enganar encontrando soluções paliativas para seu problema. Cf Lm 3:7; Sl 42:7 “Cercou-me de um muro, e já não posso sair; agravou-me com grilhões de bronze”; “Um abismo chama outro abismo, ao fragor das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim”. Jonas faz coro com Davi no salmo 18:6 “Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos”.O que podemos fazer (com forças humanas) no ventre de um grande peixe? Absolutamente nada! Contudo, há pessoas que lutam e se rebatem no emaranhado da vida. Os nossos problemas não serão resolvidos por nossa capacidade, inteligência, ou força, mas pelo poder de Deus. O servo de Eliseu: “que faremos” em 2 Rs 6.
Solidão v 3-6a. O que Davi falou figuradamente, Jonas experimentou literalmente. V 5 cf. Sl 69:1 – “Salva-me, ó Deus, porque as águas me sobem até a alma” Jonas sente como se estivesse rodeado de um abismo, a impressão é de alguém numa queda livre sem ter em que se agarrar.O profeta fujão desceu até as últimas conseqüências de seu pecado. A ponto de pensar que tinha sido desamparado até por Deus – Is 40: 27; 49: 14. “O meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu direito passa despercebido ao meu Deus?”; “O senhor me desamparou, o Senhor se esqueceu de mim”. Desceu em um abismo tão profundo que achava que não pudesse ser achado por Deus.Jonas se apega a uma promessa firmada entre Deus e o rei Salomão no v 4b cf. 1 Rs 8:38 – “qualquer que orar voltado para o templo Deus ouviria sua oração”, a idéia era, não como a dos mulçumanos que oram voltados para Meca, centralizar a presença de Deus no templo, onde Deus figuradamente morava.
Esse sentimento centralizador prejudicou muitas pessoas que passaram a ver o templo como algo mágico e que obrigava Deus abençoar mesmo se o ofertante não tivesse puro – Jeremias condena essa falsa espiritualidade, 7:4, 9-11. “Não confieis em palavras falsas, dizendo: templo do Senhor, Templo do Senhor é este”... A casa de Deus havia se tornada num covil de salteadores, i.e. refúgio para homens pecadores impenitentes. Mas haviam aqueles que encontravam no templo apenas uma maneira de visualizar um pouquinho da imensidão de Deus, e receber seu favor.
Idolatria v 8. Quem deixa de orar ao verdadeiro Deus perde sua única esperança. Aqueles que adoram e oram a outros deuses não obtém respostas; como os marinheiros que estavam se perdendo cada vez mais, 1:5a.Aqueles que oram a outros deuses desertam da misericórdia de Javé. 2 Rs 17:15 “Rejeitaram os estatutos e a aliança que fizeram com seus pais, como também suas advertências com que protestara contra eles; seguiram os ídolos, e se tornaram vãos, e seguiram as nações que estavam em derredor deles, das quais o Senhor lhes havia ordenado que não as imitasse” ; Jeremias 10:8-11.Jonas também havia praticado idolatria: sua vontade própria. Contudo agora confessa, arrepende-se e busca misericórdia.
Palavras que falam do cuidado de Deus
Deus ouve – v 2. Deus sempre ouve a todos aqueles que clamam – Jó 36:13-14 “Os ímpios de coração amontoam para si a ira; e, agrilhoados por Deus não clamam por socorro. Perdem a vida na sua mocidade e morrem entre os prostitutos cultuais”. O peixe poderia ser um empecilho para Jonas não clamar por socorro. Alguns se sentem desesperados a ponto de acharem que não há salvação.V 2 “Ele respondeu... tu ouviste a minha voz”. Nem sempre a resposta de Deus é positiva ao que pedimos, mas temos certeza que Deus sempre ouve.Deus graciosamente aceita a oração de Jonas – v 7b “subiu a ti minha oração, no teu santo templo”. A idéia é que Deus se agradou da oração de Jonas.Richard Dawkins, em “Deus um delírio” ironiza o fato de Deus poder ouvir nossos pensamentos e orações ao mesmo tempo que controla o universo, contudo ele esquece da grandeza desse Deus, que não pode ser medido por uma mente limitado e finita como a nossa. Deus age. Jeová não é um Deus de meras palavras, mas de constante atividade. Ele não apenas escuta, mas também age.Deus tirou o profeta da angústia. A oração do humilde reconhece que Deus é soberano tanto nas coisas boas como nas ruins. v 6 “fizeste subir da sepultura a minha vida, alma”.Deus deu nova vida ao profeta. V 6 “fizeste subir da sepultura a minha vida”. A experiência de quem passa por um livramento de Deus é como se tivesse nascido de novo.
Palavras que descrevem a salvação de Deus
Nos versículos 7-10 Jonas se debruça sobre o tema da salvação de Deus. O profeta consegue vê a salvação de Deus de duas formas: Preventiva e Redentiva.
Salvação preventiva de Deus – v 3 “pois me lançaste no profundo”. i.e. Deus é o causador daquele situação de angustia e solidão que o profeta estava sentindo.Jonas diz que quando sua alma desfalecia, lembrou no seu íntimo de Deus. V 7. essa lembrança ressurge suas esperanças de livramento. Se tirarmos Deus do mundo perderemos toda e qualquer possibilidade de esperança; não teremos a quem recorrer nas horas tristes e escuras da vida. A salvação redentiva de Deus – v 6b.
Deus é o nosso salvador e de todo aquele que ele se agrade salvar - v 9. Salmo 3:8 “Do Senhor é a salvação”; 67:19, 20 “Deus é a nossa salvação”, “O nosso Deus é o Deus libertador”. Paulo diz que Deus é o “salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis”.
Palavras que expressam o livramento vindo de Deus: “fizeste subir da sepultura a minha vida” – v 6. Deus Falou ao peixe e este vomitou Jonas na praia.Deus tem o controle sobre toda criatura. Ele preparou esse animal para engolir e depois vomitar Jonas na praia. Ele fez isso várias vezes no A.T: as pragas, a jumenta de Balaão, os leões da cova que Daniel foi lançado, os corvos que alimentaram Elias, O leão que espedaça o profeta desobediente em Juízes.
Conclusão


Não podemos ter outra atitude diante desse Deus senão nos curvar a Ele em oração e humildade reconhecendo-O como nossa fonte de livramento e salvação.

Postado por Pr. Francimar lima

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Spurgeon e Sua Conversão

Apesar de ter ouvido desde criança o plano da salvação pelo sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário, e de ter lido muitos livros de excelentes escritores puritanos, Spurgeon ainda não tinha nascido de novo. A luz do evangelho estava lá em seu coração, mas permanecia tão cego que não podia vê-la.

Sem dúvida alguma, os familiares de Spurgeon foram os primeiros a lançar a boa semente em seu coração, em especial sua querida mãe, pois além de instruir seus filhos no caminho do Senhor, ela orava pela salvação dos mesmos. Uma destas muitas orações que fazia pelos seus filhos, o próprio Charles Spurgeon lembra em particular de uma, que lhe penetrou a consciência e moveu seu coração, e da qual, segundo ele, nunca esqueceria até mesmo quando os cabelos se tornassem brancos. Sua oração foi assim: “Ah, Senhor, se os meus filhos permanecerem em seus pecados, não será por falta de conhecimento que perecerão; e se eles não se entregarem a Ti, minha alma de pronto testificará contra eles no dia do julgamento”.[1]
Seguramente, foi necessário que o Senhor mesmo interviesse e desvendasse a mensagem do Evangelho para ele. E foi exatamente isso que o Senhor Jesus fez, quando Charles tinha 15 anos e meio, no dia 6 de janeiro de 1850, enquanto fazia uma visita em Colchester. Ele testifica como isto aconteceu em sua vida:

Quando estava preocupado com minha alma, resolvi que iria a todos os lugares de adoração na cidade onde vivia, para que pudesse encontrar o caminho da salvação. Estava disposto a fazer qualquer coisa, e ser qualquer coisa, se Deus tão somente perdoasse meu pecado. Fui a todas as capelas, e a todo lugar de adoração; mas por um longo tempo foi tudo em vão. Não culpo, no entanto, os pastores [...]. Posso honestamente dizer que não houve uma só vez que fui sem orar a Deus, e tenho certeza que não havia um ouvinte mais atento em todos aqueles lugares que eu, pois almejava e desejava saber como poderia ser salvo. Às vezes fico pensando que poderia estar nas trevas e no desespero até agora, se não tivesse sido a bondade de Deus ao enviar uma nevasca, no domingo de manhã, enquanto estava indo a certo lugar de oração. Quando não pude mais ir adiante, desci a rua ao lado e cheguei a uma pequena capela Metodista primitiva. Naquela capela deveria haver uma dúzia ou quinze pessoas […]. O pastor não tinha vindo àquela manhã; suponho tenha sido a nevasca. Porém, um homem de aparência muito magra, um sapateiro, ou alfaiate, ou qualquer coisa desse tipo, subiu ao púlpito a fim de pregar. Tá certo que os pregadores devem ser instruídos, mas este homem realmente não o era [...]. O texto era: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro.”
[2] [...] Depois que tinha pregado pouco mais de dez minutos, já estava no fim da sua pregação, quando olhou para mim sob a galeria [...], fixou seus olhos em mim como se conhecesse todo o meu coração, e disse: “Jovem, você parece tão miserável!”. Bem, eu parecia; mas não estava acostumado a ouvir estas declarações de púlpito sobre minha aparência pessoal antes. No entanto, foi um bom sopro que derrubou a casa. Ele continuou: “e você sempre será miserável – miserável na vida, e miserável na morte, se você não obedecer a meu texto; mas se você obedecer-lhe agora, neste momento, você será salvo”. Então, erguendo as mãos, bradou como só um metodista primitivo pode fazer: “Jovem, olhe para Jesus Cristo! Olhe! Olhe! Olhe! Você não tem nada a fazer senão olhar e viver!”. Eu vi de uma vez o caminho da salvação. Não recordo de mais nada que aquele homem simples disse, pois fiquei tomado com aquele pensamento. Como quando a serpente de bronze foi levantada, e o povo somente olhava e ficava curado, assim foi comigo. Eu estava esperando fazer cinqüenta coisas, mas quando eu ouvi aquela palavra “Olhe!”, que palavra fascinante ela pareceu a mim. Oh! Eu olhei até quase não poder tirar os olhos! Então a nuvem se foi, as trevas foram retiradas, e naquele momento eu vi o Sol.[3]

Anos mais tarde Spurgeon expressaria sua gratidão a Deus, não somente pelos bons livros que havia lido, mas principalmente por aquele homem que nunca tinha recebido qualquer treinamento para o ministério, que estava nos seus afazeres durante a semana, mas que não se intimidou ante aquele desafio de substituir o seu pastor naquela manhã de domingo. Ele declarou: “Os livros foram bons, mas o homem foi melhor”.
[4]

Em carta, escrita de Newmarket ao seu querido pai, em 30 de janeiro de 1850, pouco depois de sua conversão, Spurgeon fala da alegria de ser salvo pelo Senhor Jesus, da comunhão que gozava com Ele através da oração e da leitura de Sua palavra e da certeza de que aquilo que foi implantado em seu ser, não viera de si mesmo, mas do Espírito Santo.

Ele abriu os meus olhos! Agora O vejo, posso firmemente crer nEle para minha salvação eterna.[...] Quão doce é a oração! Ficaria sempre engajado nela. Quão maravilhosa é a Bíblia! Nunca a amei tanto antes; ela é para mim como alimento indispensável. Sinto que não tenho qualquer partícula de vida espiritual em mim, salvo a que foi posta pelo Espírito. Sinto que não posso viver se Ele partir. Tremo e temo em entristecê-Lo. Temo que a indolência ou o orgulho me vençam, e assim, desonre o evangelho pela negligência da oração, da leitura das Escrituras, ou em pecar contra Deus.
[5]


[1] C.H. Spurgeon’s Autobiography, vol 1, p. 71.
[2] Isaías 45:22
[3] C.H. Spurgeon’s Autobiography, vol 1, pp. 112-114.
[4] Ibid., p. 113.
[5] Ibid., p. 123.
Postado por Elias Lima

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Orando Com Fé!

INTRODUÇÃO

Atualmente são ouvidos os nítidos gritos dos pregadores do evangelho da prosperidade, alegando que muitas pessoas ainda não estão rodeadas de bens porque não têm orado com fé. Para eles a oração com fé é a garantia irrefragável de que tudo o que uma pessoa pede a Deus há de receber. Chegam ainda a dizer que a maioria das enfermidades é resultado da falta de fé.

Pode-se concordar com tudo isso ou o evangelho da prosperidade está sustentada em solo frágil? Na verdade a pergunta a se fazer neste ponto seria Jesus em algum momento de sua vida ensinou acerca disso em discurso direto ou mesmo em alguma situação que tenha passado em sua vida? Quando Cristo falou sobre a relação entre oração e fé foi semelhante ao que é pregado pela prosperidade?

Não há espaço aqui para tratar todos os textos dos quais podem ser tiradas algumas lições acerca do assunto em pauta. Porém, quando se trata da relação entre oração e fé um texto se apresenta de forma brilhante. A narrativa feita pelo evangelista Mateus do diálogo entre Jesus e a mulher cananéia, como tem sido conhecida, apresenta um conceito bem interessante sobre a relação entre oração e fé. Este texto, portanto, pode responder os questionamentos supracitados.


TEXTO BÍBLICO - Mateus 15:21-28

Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ele, porém, não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, aproximando-se, rogaram-lhe: Despede-a, pois vem clamando atrás de nós. Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me! Então, ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ela, contudo, replicou: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então, lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã.

Deve haver neste ponto um espaço para a elucidação do texto. Alguém poderia questionar se este texto está realmente falando ou ensinando sobre oração. É certo que o texto fala de fé, e segundo a avaliação do próprio Cristo esta era uma fé grande. Deve-se também desde já ser declarado que não é o propósito do presente artigo expor exaustivamente o texto, mas simplesmente ao ponto de responder os questionamentos feitos no inicio.

A oração é, segundo o conceito bíblico geral, dirigir-se a Deus como um ato de adoração confiando a Ele as necessidades. Não é encontrada no texto em questão a palavra oração, contudo, a idéia, conforme anteriormente definida, é expressamente percebida na atitude da mulher cananéia dirigindo-se veementemente a Cristo, confiando a Ele as suas necessidades e expressando tamanha fé, ao ponto de despertar a admiração do próprio Cristo.

Não há a princípio uma base gramatical para afirmar que o texto aqui se trata de oração. Contudo, também não há necessidade de muito esforço para entender que o texto relata qualificadamente um ato de oração, além disso, deve-se admitir pela leitura do texto que a atitude da mulher cananéia em relação a Cristo é definidamente a atitude de alguém que dirige-se a Deus confiando-lhe suas necessidades, e isto é oração.

Alguém ainda poderia questionar o fato da mulher não ter um relacionamento genuíno com Deus por não pertencer à nação de Israel, “ao povo de Deus”, e, portanto, seu clamor não ser uma oração, pois, segundo o ensino bíblico Deus não ouve a pecadores. Contudo, em relação a isto, alguns fatos precisam ser considerados.

Primeiramente, o fato de uma pessoa não pertencer genuinamente ao povo de Deus não exclui a possibilidade dela orar, aqui não entra em mérito a questão de Deus ouvir ou não, mas a possibilidade da pessoa orar. Quando Deus não ouve (atende) não é porque a pessoa na orou, ou clamou, mas é porque alguma coisa está impedindo que Deus a atenda, no caso, a santidade de Deus repugnando o pecado, e isto, tanto em relação a uma pessoa que não é do povo de Deus, como também em relação a uma pessoa do povo de Deus que está vivendo no erro. Muito ainda poderia ser dito acerca disto, tal como o fato de que é inerente à natureza humana clamar, mesmo sem um íntimo conhecimento, ao Deus que a criou, além de outras questões que o tempo e o propósito não permitem mencionar e analisar.

Em segundo lugar, o texto fornece base suficiente para concluir que aquela mulher mesmo não sendo israelita era da nação escolhida, pois acreditava na pessoa de Jesus como o Messias. Ela usa a expressão “Filho de Davi” quando clama, e isto indica que de alguma forma ela acreditava e esperava o cumprimento da promessa messiânica feita a Davi. Além disso, em todas as vezes que ela dirige-se a Cristo usa o título “Senhor” que no entendimento do povo que esperava o cumprimento das promessas messiânicas referia-se a Deus ou Jeová. Crer no Messias, na Bíblia é sinônimo de salvação. Quando Jesus diz “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” está falando sobre sua missão imediata, e não sobre a possibilidade da mulher ter ou não um relacionamento de salvação com Deus através do Messias. Talvez alguém possa argumentar que isto é forçar o texto a dizer algo que não é, mas muitos dos leitores deste artigo devem admitir que não são da casa de Israel, contudo, são salvos.

Todos estes fatos revelam que o clamor da mulher constitui-se numa oração dirigida a Deus na pessoa de Jesus Cristo. Mesmo que o escritor bíblico queira enfatizar o desespero da mulher com a expressão “clamava”, que traz a idéia de um grito movido pelo desespero frente a uma profunda necessidade, a maneira como ela dirige-se a Cristo indica um ato de oração.

Porém, repetidos clamores, submissão ao senhorio de Cristo, e a grande fé da mulher, segundo o texto não garantiu que ela imediatamente fosse atendida, nem tão pouco, que recebesse algo além de suas necessidades. Por maior que foi a sua fé, ela não conseguiu manipular a Cristo. E isto responde às colocações feitas inicialmente, de que a oração com fé não é a garantia de que a pessoa estará rodeada de bens, ou prosperará indefinidamente. Na verdade os pregadores da prosperidade têm afirmado estes absurdos por causa da má compreensão da definição de fé que eles têm. Segundo o autor de Hebreus “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”, um pouco mais à frente ele diz que “sem fé é impossível agradar a Deus”, e no mesmo verso ele mostra o motivo “porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”. Diante destas declarações pode-se dizer que a fé é a certeza de que Deus pode fazer o que é impossível, trazendo aquilo que não é, e mostrando aquilo que não se vê. Não é por outro lado a certeza de que a pessoa pode realizar o irrealizável, mas somente Deus pode assim agir. Portanto orar com fé não é orar com a certeza de que se pode realizar determinada obra, mas com a certeza de que Deus pode agir favoravelmente. Contudo por maior que seja a fé, a decisão de ser favorável ainda é de Deus, pois, Deus não é manipulado pela fé, por mais intensa que ela seja.

Diante de tudo disso, uma pergunta deve ser feita para partir para o passo seguinte: quais são, na verdade, os benefícios da fé?


RECONHECENDO A FONTE DO SUPRIMENTO

Ao invés da fé levar a Deus a agir de determinada forma, leva a pessoa que exerce a fé a tomar algumas atitudes. Como já foi dito a fé não manipula a Deus, mas leva a própria pessoa a tomar atitudes importantes e necessárias na oração. Uma dessas atitudes é reconhecer que a única fonte que supre as suas necessidades por mais profundas que sejam é Deus. Jesus admite que a fé daquele mulher era grande exatamente pelo fato de que em momento algum ela duvidou que estivesse clamando à pessoa errada.

O texto mostra claramente que a mulher reconhece que Cristo é o Senhor, aquele que é e que mantém a existência de todas as coisas. Ela dentro da comparação que Cristo faz chama a si mesma de Cachorrinho, demonstrando que tem necessidades que não podem ser supridas por sua própria capacidade, e neste ponto a sua fé mostrou a ela mesma como era incapaz de resolver seus próprios problemas. Por fim ela não para de pedir, porque vê em Cristo o único que pode suprir suas necessidades que de tão profundas levaram-na a gritar. Tudo isto ela fez porque era grande a sua fé.

A lição que pode ser tirada deste ponto é que a oração com fé leva o homem a reconhecer que Deus é o único que pode realizar o que humanamente é impossível, que somente Deus é a fonte do suprimento de toda e qualquer necessidade, e que Deus é “Tudo” e o homem é nada, Deus é forte e o homem é fraco, Deus é Todo Poderoso e o homem é tão impotente qual um cachorrinho indefeso.


PERSEVERANDO FRENTE AO DESESTÍMULO

Outro benefício da fé na oração é levar a pessoa a perseverar frente aos desestímulos. Jesus admira a fé da mulher cananéia também pelo fato dela ter perseverado no seu clamor mesmo diante de suas desencorajadoras colocações. Primeiramente, diante do clamor que exaltava a sua pessoa, Jesus guardou silencio, talvez para mostrar que se ela desistisse após pedir uma única vez, não era verdadeira a expressão de louvor que saiu de seus lábios. Fé pequena e coração endurecido levam as pessoas a desistirem de clamar por suas necessidades. Quando a pessoa desiste mostra que tudo o que ela fez durante a primeira tentativa era apenas um ato de hipocrisia e não uma demonstração de fé. Se a mulher tivesse desistido frente ao silêncio de Cristo, se constataria que o louvor acompanhado do clamor não era verdadeiro. Em segundo lugar Ele diz “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”, isto já seria motivo suficiente para uma pessoa de fé minúscula interromper o seu clamor, o que não foi o caso com a mulher cananéia. Muito pode ser dito acerca desta sua atitude, mas para o propósito fica em foco o fato dela não ter desistido mesmo ouvindo o que não queria ouvir, mas adorou a Cristo. Por fim, Jesus ainda diz “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”, ao que a mulher acha resposta. Jesus já sabia da grandeza da fé dela , mas faz estas provas para que ela revelasse o quanto confiava no poder de Deus e nele esperava sem desistir.

As coisas não param por aí, no meio do que Cristo falou também aparecem no cenário os discípulos, que querendo livrar-se dos importunos clamores da mulher mandam Cristo despedi-la. Contudo mesmo diante disto ela não desistiu. A aplicação destes fatos fica por conta, é claro, de cada leitor, mas o principio é que aquele que ora com fé não desiste, porém, persevera frente ao desestímulo.


RECEBENDO O SUFICIENTE PARA AS NECESSIDADES

O terceiro e último beneficio da oração com fé é reconhecer que o aquilo que Deus dá é suficiente para suprir as necessidades, por mais profundas que sejam. No diálogo com Jesus a mulher reconhece que aquilo que o Senhor desse, mesmo que fossem as migalhas, para ela era suficiente. Ela não está depreciando o que Deus dá, quando denomina de migalhas. Pelo contrário, visto que ela reconhecia estar na posição de um cachorrinho, as migalhas eram tudo do que ela precisava. É logo em seguida à declaração de que as migalhas lhes seriam suficientes que Jesus elogia a intensidade de sua fé.

A grandeza da fé não estar em viver rodeado de bens, mas em viver com todas as necessidades supridas. As pessoas que oram com fé reconhecendo que mesmo o pouco é suficiente para suas necessidades, e por isso pedem o pouco, terão tudo o que necessitam. Muitos bens não é sinal de muita fé, e sim muitas necessidades supridas.


CONCLUSÃO

Finalmente, orar com fé é levar a si mesmo a confiar indefinidamente no poder e na bondade de Deus, reconhecendo-O como única fonte de seu suprimento, perseverando frente ao desestímulo, e reconhecendo que o que recebe é suficiente para o suprimento de todas as necessidades. Ore com fé e leve-se para mais perto de Deus.
J. S. Figueiredo

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Bem-aventurados os misericordiosos

Você tem guardado mágoa de alguém? Que nota você daria para sua capacidade de perdoar os outros? Gostaria de convidá-lo para meditar sobre este tema- o perdão.
No ensino do Sermão do monte, Jesus disse em sua quinta bem-aventurança: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” (Mt.5:7)
Idéia: Precisamos exercer misericórdia para sermos realmente felizes.
Por que precisamos exercer misericórdia?

I- Precisamos exercer misericórdia porque já recebemos misericórdia de Deus.

A. A parábola do credor incompassivo ( Mt.18).

Depois da pergunta de Pedro, Jesus o surpreende com um número “absurdo” 70X7=490. Para mostrar a Pedro que aquilo não era muito à vista da misericórdia de Deus, Jesus conta a parábola. “Certo rei resolveu ajustar contas com seus servos. Um deles devia a soma astronômica de dez mil talentos, uma soma tão absurda que uma vida inteira de trabalho não seria suficiente para pagar. Ordenou-se que o devedor fosse vendido com a família a fim de saldar pelo menos parte da dívida. Então, o devedor rogou por misericórdia, pedindo um tempo para pagar. Mais que isso, o seu senhor perdoou-lhe a dívida. O devedor, porém, lembrou-se de que outro servo lhe o, exigiu devia uma pequena soma de 100 denários. Agarrou-o e, quase o estrangulando, pediu que lhe pagasse a dívida. O pobre homem caiu aos seus pés, implorando paciência e garantindo que pagaria a dívida integralmente. Ele, porém, colocou aquele pobre homem na prisão. Quando o rei descobriu o que aquele servo devedor fizera, mandou chamá-lo. Então lhe disse: servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, ter misericórdia (compadecer-te) do teu conservo como eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos até que lhe pagasse toda dívida. Só para você ter uma idéia, um talento era equivalente a 6.000 denários, e um denário era o valor da diária de um trabalhador. Note então a diferença: Aquele que foi perdoado da dívida de 60.000.000 denários não perdoou uma dívida de 100 denários.

B. Aplicando: Você já experimentou a misericórdia de Deus? Sua conta com ele já foi perdoada? Então negar perdão ao seu próximo é esquecer da misericórdia alcançada. A ofensa que você sofrer não chega nem perto daquela que você cometeu e comete contra Deus. Contudo, o Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno (Sl.103:8). O refrão do Salmo 136 repete 26 vezes:”Porque a sua misericórdia dura para sempre.”
Na oração que Jesus ensinou aos discípulos, o pedido de perdão a Deus é colocado paralelamente ao perdão concedido a um devedor. Aquele que perdoa é quem melhor aprecia o perdão divino. Conseqüentemente, quem experimenta o perdão divino não achará um fardo grande perdoar alguém tantas vezes for necessário. Note que nesta oração o perdão não é ordenado, mas colocado como uma prática – como nós temos perdoado aos nossos devedores.

C. Exortanto os colossenses, o apóstolo Paulo diz:”Perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós.” (Cl.3:13). Palavras semelhantes ele diz aos efésios: “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmia, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou. Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef.4:31-32, 5:1). Como Deus teve misericórdia de nós, nos tornamos seus filhos e, como filhos, precisamos imitar o nosso Pai. Jesus imitava seu Pai. Na crucificação Ele disse: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).

Precisamos ser misericordiosos para sermos realmente felizes

II- Porque exercer misericórdia é nossa obrigação. (Lucas 17:3-11)

A. Mesma situação da parábola do credor incompassivo, porém com outra aplicação. Lucas registra a reação dos apóstolos, que foi pedir o aumento da fé a Jesus para perdoarem tantas vezes. Jesus, então, declara-lhes que não é preciso uma grande fé para deslocar uma planta e transplantá-la ao mar.

B. Jesus ordena o perdão (Vs.3,4). O exemplo é dado para mostrar que aquele que perdoa não está fazendo nada além do que é sua obrigação (vs.10). Ele não tem nenhum motivo para se gloriar. É um servo inútil.

C. A misericórdia de Deus é livre. Ele tem misericórdia de quem Ele quiser (Romanos 9:14-18), mas aquele que foi alcançado pela misericórdia de Deus tem a obrigação de ser misericordioso.

D. Aplicação: Não estamos dizendo que um ofensor mereça perdão, e sim que o ofendido tem a obrigação de perdoar assim como Deus o perdoou. Então, quando não somos misericordiosos, estamos deixando de fazer nossa obrigação. Somos menos do que servos inúteis. Que situação!

Precisamos ser misericordiosos para sermos realmente felizes

III-Porque exercer misericórdia é uma expressão de amor (Bom samaritano Lc.10:25-37)

A. Misericórdia aqui foi a ajuda prestada pelo samaritano a alguém que ele não conhecia. Toda a questão começou quando o intérprete da lei perguntou quem era o seu próximo. Isto porque o segundo princípio mais importante da lei era amar o próximo como a si mesmo. Quando o samaritano usou de misericórdia para com o viajante, ele estava mostrando amor ao seu próximo.

B. Exemplo de Jesus -Mateus 9:36 – “Compaixão”.
Jesus censurou a falta de misericórdia dos fariseus (Mt.23:23) “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.” Estes homens podiam violar o sábado para tirar um boi ou uma ovelha que caiu num poço, mas repreendiam Jesus porque curava pessoas no sábado (Lc.14:1-6; Mt.12:9-14). Realmente a misericórdia deles passava longe.

C. Aplicação: Você tem tido esta compaixão pelos perdidos? E quanto aos necessitados? Quantas vezes você despediu alguém de mãos vazias, sendo que você podia ajudar?

A RECOMPENSA DOS MISERICORDIOSOS

A felicidade dos misericordiosos está no fato de que eles receberão misericórdia também. Na oração dominical, Jesus disse: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt.6:14-15)

CONCLUSÃO:

Conta-se a história de um professor de religião que pediu a seus alunos que levassem batatas e um saco plástico para a aula e escrevessem nas batatas o nome de cada pessoa de quem sentiam mágoas e ressentimentos. Uma batata para cada nome.

Pediu também para colocar dentro do saco plástico e guarda-lo na mochila, junto com seus livros e cadernos.
A tarefa consistia em levar as batatas a todos os lugares onde fossem, por tempo indeterminado, até que o professor os autorizasse a se livrar delas.

Naturalmente, elas foram apodrecendo. Além do peso, logo, também, o mal cheiro começou a incomodar os alunos, até o ponto em que não agüentaram mais.

-Professor, por favor, não dá mais. Podemos jogar esse lixo fora?
-Sim, podem jogar as batatas fora, mas, se junto com elas vocês também não jogarem fora toda a mágoa e ressentimentos que elas representam, o peso e o mau cheiro não sairá de seus corações.
Postado por José Roberto