quinta-feira, 27 de novembro de 2008

DISCURSO SOBRE A AMIZADE III: DO PRINCÍPIO DA MODERAÇÃO

Não sejas freqüente na casa do teu próximo, para que não se enfade de ti e te aborreça[1].

Os escritores clássicos denominavam esse princípio temperança e consideravam-no uma das mais importantes virtudes, conforme pode ser atestado pelo testemunho de Platão. Segundo o filósofo grego, “nenhuma cidade, tenha ela as leis que tiver, poderá viver tranqüila, quando os seus cidadãos consideram de bom aviso gastar dessa maneira e não ocupar-se com mais nada a não ser comer e beber à farta, só pensando nos prazeres do amor”[2]. Marco Aurélio, por sua vez, coloca este princípio, juntamente com a justiça, a coragem e a verdade, entre os bens mais preciosos da existência humana[3]. Horácio acrescenta que “não é sábio o sábio, nem justo o justo, se seu amor à virtude é exagerado”[4]. Um provérbio medieval afirma que “aquele que vende a temperança, compra a morte”[5]. Até mesmo Epicuro, considerado o fundador da filosofia hedonista, era taxativo em prevenir os seus compatriotas acerca dos perigos da intemperança. Tentando corrigir falsas interpretações acerca de seu pensamento, assim ele combate à falta de moderação:

Quando dizemos, então, que o prazer é o fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como crêem certos ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma[6].

O termo grego empregado para temperança pode ser traduzido como moderação, sobriedade, juízo equilibrado, prudência, etc. A principal razão que justificava a importância dada pelos escritores antigos à temperança estava no fato de que ela capacitava o homem a experimentar os prazeres de forma equilibrada, ela prevenia a ocorrência de excessos. Como Demócrito costumava exortar seus compatriotas, “desejar algo violentamente cega a alma para o restante”[7]. Aristóteles considerava a temperança um meio termo entre dois vícios: a insensibilidade e a intemperança. Segundo ele, o homem virtuoso não era aquele que desfrutava de todos os prazeres e nem aquele que se abstinha de todos os prazeres, mas aquele que sabia selecionar os prazeres e experimentá-los de forma equilibrada[8]. Em um provérbio anterior ao citado acima, Salomão afirma: “Achaste mel? Come apenas o que te basta, para que não te fartes dele e venhas a vomitá-lo”. Com a figura do mel, o sábio introduz a discussão acerca da moderação. Este alimento tão saboroso, capaz de produzir em nós uma prazerosa sensação gustativa, quando consumido sem moderação, torna-se algo extremamente indesejável, capaz de gerar em nós o mais incontrolável dos repúdios: o vômito.

De fato, não há como negar a importância da moderação até mesmo para que haja um perfeito exercício das outras virtudes. Sem ela, os outros princípios morais perdem a sua essência. Sem a dosagem da temperança, a justiça transforma-se em crueldade, a coragem é convertida em temeridade, o conhecimento cede aos apelos da soberba, a esperança cede espaço à apatia e a própria amizade é levada a vestir a máscara hipócrita da cumplicidade. A Bíblia reconhece claramente a relevância dessa virtude. Para fazer uma citação livre de uma passagem do próprio Salomão, “o homem não deve ser nem demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio”[9]. Obviamente, o sábio não está incentivando a injustiça e muito menos legitimando a ignorância. Ele não está dizendo que não devemos ser justos, muito menos que não devemos ser sábios. O que ele está desaprovando é o exercício desequilibrado dessas virtudes. O sábio está certo que qualquer virtude, quando desacompanhada da moderação, perde a sua característica original. Somente após estas considerações podemos discutir o texto onde Salomão aplica o princípio da moderação à amizade.

A Bíblia recomenda a amizade, mas não a amizade sem moderação. O relacionamento entre amigos é também marcado pela troca de afeto. Contudo, no homem, nada é tão tendencioso à intemperança como o seu componente afetivo. É no terreno escorregadio das emoções que ele é mais facilmente atraído pelo excesso. Para proteger-se contra esse perigo, ele precisa estar protegido pela armadura da moderação. Essa parece ser a preocupação de Salomão ao afirmar que o amigo não deve ser freqüente na casa do seu companheiro. Certamente, o sábio não está sugerindo que os amigos não devem se visitar entre si. O seu cuidado é no sentido de que isso seja feito com moderação a fim de que a amizade não seja desvirtuada. Na segunda parte do provérbio, o sábio deixa claro que uma amizade sem moderação representa um perigo sério para o exercício dessa forma de amor. A falta de moderação pode transformar um relacionamento marcado pela afeição e pela empatia em motivo de aborrecimento e rejeição, violando assim a essência da verdadeira amizade. Dito de outro modo, uma amizade marcada pela intemperança e pelo desequilíbrio não demorará muito tempo para converter-se em inimizade. Não sem razão os antigos gregos afirmavam que “o amigo de hoje do intemperante será o seu inimigo de amanhã”[10]. Com isso pode ser percebido que a falta de moderação afeta um outro princípio fundamental da amizade: a constância.

Além disso, a amizade é “uma relação entre mentes livres”[11], para citar mais uma vez as palavras de C. S. Lewis. Não obstante, quando não há moderação, a liberdade, um dos traços mais distintivos da amizade, é completamente violada. O eros é um tipo de amor que possui a exclusividade em sua essência, fato que não ocorre em relação à amizade. “Razão porque os amantes são representados frente a frente, mas os amigos lado a lado”[12]. Aquele que já tem um amigo fica ainda mais feliz em estabelecer novas amizades. O fato é que se A e B resolverem estabelecer uma amizade, A precisa está ciente de que B poderá ter inúmeros outros amigos e vice-versa. Cada um deve saber que não é o único amigo do outro e ambos precisam de tempo para dedicar aos outros amigos e de tempo para dedicar a si mesmo. Nenhum amigo tem o direito de reivindicar dedicação exclusiva do outro. Se isso acontecer, essa relação pode receber qualquer outro nome, menos amizade. A exclusividade não é própria dessa forma de amor. A partir do momento em que um amigo se torna refém do outro, o seu relacionamento está ameaçado. Esse princípio parece bastante elementar e repetitivo. Contudo, ele sempre é violado pela intemperança que frequentemente afeta o relacionamento entre amigos.

Quando a falta de moderação atinge um relacionamento entre amigos, a tendência é que se desenvolva entre ambos um espírito de possessividade, ciúme e dependência, fato que viola o caráter autônomo da amizade. Nesse ponto, temos que concordar com C. S. Lewis quando defende que nada é tão contrário à amizade como o ciúme.

A essa altura, não seria o caso de indagarmos a respeito daqueles pobres cristãos sinceros que por duas vezes já tiveram que reduzir a sua lista de amigos? Se agora eles avaliassem os amigos que restaram, não se veriam obrigados a fazer uma terceira redução? Mas esses pobres cristãos, em sua sinceridade, querem fazer amigos verdadeiros. Contudo, eles estão ficando cada vez mais angustiados, pois sua lista tem sofrido reduções drásticas. O que eles deverão fazer? Se desejam aumentar a lista de amigos, eles precisarão libertar alguns reféns, e, quanto menos reféns eles tiverem, maior será a sua lista de amigos. A libertação é necessária, ainda que a cela fique completamente vazia e todos os reféns ganhem a sua liberdade para depois se tornarem verdadeiros amigos. Por fim, cabe acrescentar que a cela deverá ser queimada com fogo inextinguível, a fim de que os amigos nunca mais possam se sentir presos.

Notas:

1. Provérbios 25:17.

2. PLATÃO. Fedro, Cartas, O primeiro Alcibíades. In: Diálogos Vol. V. Belém: EDUFPA, 1975. p. 139.

3. MARCO AURÉLIO. Meditações. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 281.

4. HORÁCIO apud MONTAGNE, Michel de. Ensaios. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 101.

5. LLULL, Ramon. O livro dos mil provérbios. Disponível em <www.ricardocosta.com/grupos/proverbi.htm> (Acessado em 10 de maio de 2008). Não paginado.

6. EPICURO. Antologia de textos. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 30.

7. DEMÓCRITO. Pré-socráticos I. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 134.

8. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2001. passim.

9. Eclesiastes 7:16.

10. Ad. Tempora.

11. LEWIS, C. S. Os quatro amores. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 82. 100.

12. LEWIS, C. S. op. cit. p. 94.



Postado por J. Marques


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Os significados de Amor na Bíblia (Parte 1)

O amor na Bíblia, como no nosso uso diário, pode ser dirigido de pessoa à pessoa ou de uma pessoa a coisas. Quando dirigido em direção a coisas, o amor significa gostar ou tomar o prazer naquelas coisas. O amor em direção a pessoas é mais complexo. Como com coisas, amando pessoas pode significar simplesmente gostar delas e tomar o prazer nas suas personalidades, aparências, realizações, etc. Mas há outro aspecto do amor interpessoal que é muito importante na Bíblia. Há aspecto do amor por pessoas que não são atraentes ou virtuosas ou produtivas. Neste caso, o amor não é um prazer em que uma pessoa é, mas um compromisso profundamente sentido à ajudá-lo a ser o que ela deveria ser. Como veremos, o amor por coisas e ambas as dimensões do amor por pessoas são ricamente ilustrados na Bíblia.

Quando examinamos o Antigo Testamento e o Novo Testamento à sua vez, o nosso foco estará no amor de Deus, depois no amor do homem por Deus, o amor do homem pelo homem e o amor do homem pelas coisas.

O Amor no Antigo Testamento

Jesus disse que o maior mandamento no Antigo Testamento era: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma” (Mt 22:37; Dt 6:5). O segundo mandamento era: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22:39; Lv 18:19). Depois Ele disse: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:40). Isto deve significar que se uma pessoa entendeu e obedeceu estes dois mandamentos, ela compreenderia e cumpriria o que todo o Antigo Testamento estava tentando ensinar. Tudo no Antigo Testamento, quando propriamente entendido, almeja basicamente a transformação de homens e mulheres em pessoas que fervorosamente amam a Deus e ao seu próximo.

O Amor de Deus

Você pode dizer o que uma pessoa ama, por aquilo que ela mais se dedica apaixonadamente. O que uma pessoa valoriza mais é refletido nas suas ações e motivações. É evidente no Antigo Testamento que o que Deus mais valoriza, mais ama, é o Seu próprio nome. Do início da história de Israel ao fim da era do Antigo Testamento, Deus foi movido por este grande amor. Ele diz através de Isaías que Ele criou Israel “para Sua glória” (Is 43:7); “Tu és o meu servo, és Israel, por quem hei de ser glorificado” (Is 49:3).

Deste modo quando Deus livrou Israel da escravidão no Egito e os preservou no deserto, foi porque Ele estava agindo por causa do Seu próprio nome, “O que fiz, porém, foi por amor do meu nome, para que não fosse profanado diante das nações” (Ez 20:9, 14, 22; Cf Ex 14:4). E quando Deus expulsou outras nações da Terra Prometida de Canaão, Ele estava “fazendo para si mesmo um nome” (2 Sm 7:23). Então finalmente no fim da era do Antigo Testamento, depois que Israel tinha sido levado para cativeiro na Babilônia, Deus planeja apiedar-se e salvar Seu povo. Ele diz: “Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha honra me conterei para contigo... Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem.” (Is 48:9, 11 Cf. Ez 36:22, 23, 32). Por estes textos nós podemos ver o quanto Deus ama Sua própria glória e quão profundamente está comprometido em preservar a honra de Seu nome.

Isto não é algo mau da parte de Deus. Ao contrário, a Sua própria retidão depende na Sua manutenção de uma plena lealdade ao valor infinito de Sua honra. Isto é visto nas frases paralelas de Sl 143:11, “Vivifica-me, SENHOR, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira da tribulação a minha alma”. Deus cessaria de ser justo se Ele cessasse de amar Sua própria glória sobre a qual Seu povo deposita toda sua esperança.

Uma vez que Deus se compraz tão intensamente em Sua glória – a beleza de Sua perfeição moral – é de se esperar que se compraza nas reflexões desta glória no mundo. Ele ama a retidão e a Justiça (Sl 11:7; 33:5; 37:28; 45:7; 99:4; Is 61:8); “Eis que te comprazes na verdade no íntimo” (Sl 51:6); Ele ama Seu santuário onde é adorado (Ml 2:11) e Sião, “a cidade de Deus” (Sl 87:2, 3).

Todavia, sobre todas as coisas no Antigo Testamento, o amor de Deus por Sua própria glória O envolve num compromisso eterno com o povo de Israel. A razão que isto é desta forma: é que um aspecto essencial da honra de Deus é a sua liberdade soberana na escolha de abençoar o indigno. Tendo escolhido livremente estabelecer uma aliança com Israel, Deus glorifica-Se na manutenção de um compromisso de amor para com este povo. A relação entre o amor de Deus e a Sua eleição do povo de Israel é visto nos seguintes textos:

Quando Moisés quis ver a glória de Deus, Deus respondeu que proclamaria Seu glorioso nome à ele. Um aspecto essencial do nome de Deus, Sua identidade, foi então dada nas palavras: “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer.” (Ex 33:18, 19). Em outras palavras, a liberdade soberana de Deus em dispensar misericórdia sobre quem lhe apraz é integral ao Seu ser como Deus. É importante agarrar esta auto-identificação porque ela é a base da aliança estabelecida com Israel no Monte o Sinai. O amor de Deus por Israel não é uma resposta divina respeitosa à uma aliança; pelo contrário, a aliança é uma expressão gratuita e soberana de misericórdia ou amor divino. Lemos em Êxodo 34:6-7, como Deus plenamente se identifica antes de confirma a aliança (Ex 34:10): “E, passando o SENHOR ... clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado...”

Assim a aliança Mosaica, na qualidade de juramento de Deus com os primeiros patriarcas (Dt 4:37; 10:15), foi arraigado no amor gratuito e gracioso de Deus. É errado, portanto, dizer que a Lei Mosaica é algo mais contrário a graça e a fé do que são as ordens do Novo Testamento. A Lei Mosaica exigiu um estilo de vida compatível com a aliança misericordiosa que Deus tinha estabelecido, mas isto também providenciou perdão de pecados e assim não colocou o homem sob uma maldição por causa de uma única falta. A relação que Deus estabeleceu com a nação de Israel e o amor que Ele tinha por ela foi comparado como aquele entre um marido e esposa. “Passando eu por junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; estendi sobre ti as abas do meu manto e cobri a tua nudez; dei-te juramento e entrei em aliança contigo, diz o SENHOR Deus; e passaste a ser minha” (Ez 16:8).

Isto é o porquê a idolatria que a nação de Israel comete mais tarde é chamada de adultério, pois ela foi após outros deuses (Ez 23; 16:15; Os 3:1). Mas apesar das repetidas infidelidades de Israel para com Deus, Ele declara: “Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jr 31:3; Cf. Os 2:16-20; Is 54:8).

Outras vezes, o amor de Deus pelo Seu povo é comparado a de um pai pelo filho ou de uma mãe por sua criança: “guiá-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho reto em que não tropeçarão; porque sou pai para Israel, e Efraim é o meu primogênito” (Jr 31:9, 20). “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Is 49:15, 66:13).

No entanto, o amor de Deus pela nação de Israel não exclue severo julgamento sobre a mesma quando esta caiu na incredulidade. A destruição do Reino do Norte pela Assíria em 722 a.C (2 Rs 18:9, 10) e o cativeiro do Reino do Sul na Babilônia nos anos seguintes a 586 a.C (2 Rs 25:8-11) mostram que Deus não toleraria a infidelidade de Seu povo. “Porque o SENHOR repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem” (Pv 3:12). De fato, o Antigo Testamento encerra-se com muitas das promessas de Deus não cumpridas. A pergunta de como o amor imortal de Deus por Israel se expressará no futuro é buscada no Novo Testamento por Paulo. Veja especialmente Romanos 11.

A relação de Deus para com Israel como nação, não significava que Ele não tinha lidado com indivíduos, nem Seu tratamento da nação como um todo O preveniu de fazer distinções entre indivíduos. Paulo ensinou em Romanos 9:6-13 e 11:2-10, que já no Antigo Testamento “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas”. Em outras palavras, as promessas do amor de Deus a Israel não se aplicaram sem distinção a todos os indivíduos israelitas. Isto nos ajudará entender os seguintes textos: “O caminho do perverso é abominação ao SENHOR, mas Este ama o que segue a justiça” (Pv 15:9). “O Senhor ama aqueles que odeiam o mal” (Sl 97:10). “o SENHOR ama os justos” (Sl 146:8). “Não faz caso da força do cavalo, nem se compraz nos músculos do guerreiro. Agrada-se o SENHOR dos que O temem e dos que esperam no Seu constante amor” (Sl 147:10, 11; 113:13).

Nestes textos, o amor de Deus não é direcionado igualmente à todos. Em seu pleno efeito salvífico, o amor de Deus é desfrutado por “aqueles que esperam no Seu constante amor”. Isto não significa que o amor de Deus não seja grátis e imerecido. Pois de um lado, a própria disposição de temer a Deus e obedientemente esperar nEle é um dom de Deus (Dt 29:4; Sl 119:36) e de outro lado, o apelo do santo que espera em Deus não é ao seu próprio mérito, mas à fidelidade de Deus ao fraco que não tem forças e só pode confiar na misericórdia (Sl 143:28, 11). Portanto, no Novo Testamento (Jo 14:21, 23; 16:27), o pleno desfrutar do amor de Deus é condicional sobre uma atitude apropriada para recebê-lo, isto é, uma confiança humilde na misericórdia de Dele: “Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará” (Sl 37:5).

Daqui a algumas semanas postaremos a segunda parte, deste artigo de John Piper, que falará do Amor do homem para com Deus e do Amor do homem para com o homem.

Tradução: Elias Lima
Fonte: http://www.desiringgod.org/

terça-feira, 11 de novembro de 2008

DISCURSO SOBRE A AMIZADE II: DO PRINCÍPIO DA FRANQUEZA

É melhor a repreensão franca do que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo que ama, mas os beijos de quem odeia são enganosos”[1].

A franqueza no relacionamento entre amigos foi outro princípio bastante apreciado entre os escritores antigos. Já no século VII a. C., o poeta lírico Focílides de Mileto recomendava que “os amigos deveriam tratar um com outro dos rumores que corriam entre os concidadãos”[2]. Recomendação semelhante pode ser encontrada no fragmento de Teognis seguinte:

Não sejas meu amigo de palavras e tenhas teus pensamentos em outro parte. Ou ama-me com vontade sincera ou rompe comigo e sê meu inimigo abertamente. O que tem uma língua e dois corações é um companheiro perigoso, cuja inimizade é preferível à sua amizade[3].

Cícero acrescenta que “a única ocasião em que não devemos deixar de ofender um amigo, é quando se trata de lhe dizer a verdade e de lhe provar assim a nossa fidelidade”[4]. Como pode ser observado, os escritores antigos não concebiam a verdadeira amizade como dissociada da franqueza. De fato, esse princípio é conseqüência de uma outra idéia bastante comum entre eles: a idéia de que a amizade era uma relação baseada na virtude[5].

Mas em que consiste a franqueza? Esse princípio pode ser definido como a expressão da verdade que deve marcar o relacionamento entre amigos. O provérbio de Salomão citado acima apresenta um princípio geral sobre ética social, mas que pode ser aplicado ao relacionamento entre amigos. Salomão emprega uma antítese bastante sugestiva para falar do princípio da franqueza. No entender do sábio, a ferida sincera é preferível ao beijo hipócrita, e a repreensão franca é mais valiosa do que o falso elogio. A figura de linguagem empregada pelo sábio pode ser explorada um pouco mais. A razão do princípio da franqueza ser comparado a uma ferida é muito simples. Às vezes, a verdade produz uma dor momentânea. Isso acontece porque ela contraria a vontade daquele que está no erro e, quem está no exercício de sua vontade, não gosta de vê-la contrariada, ainda que seja pelo mais íntimo dos amigos. Mas essa dor é momentânea, pois o amigo, se pode ser considerado com tal, logo perceberá que a ferida da verdade carrega dentro de si mesma o bálsamo cicatrizante que restaura a amizade à sua harmonia inicial. A hipocrisia e a falsidade, o oposto da franqueza e da verdade, são comparadas a um beijo. O beijo, enquanto contato corporal, produz uma determinada sensação de prazer. Mas esta agradável sensação dura apenas enquanto os objetos sensíveis estão em contato. Quando eles se separam, ela logo desaparece. Assim, é o prazer gerado pela falsidade. A sua duração é bastante curta e seu fim é sempre o oposto do pretendido: o desprazer. Para resumir a figura em poucas palavras, a franqueza produz um desprazer momentâneo seguido de um prazer durável, enquanto que a falsidade gera um prazer momentâneo acompanhado por um desprazer durável.

Um estudo mais detalhado sobre a franqueza irá revelar que ela acomoda vários outros princípios. Nesse tópico serão analisados aqueles três considerados mais essenciais. Em primeiro lugar, a franqueza envolve uma intenção sincera no estabelecimento da amizade. Aquele que pretende fazer amigos deve fazê-lo porque tem o desejo sincero de vivenciar a amizade em toda a sua dimensão. Ele deve ter a capacidade de ver o relacionamento amistoso não apenas como um meio, mas como um fim. É verdade que a amizade, em virtude de sua própria natureza, é um tipo de relacionamento que acarreta vantagens para os seus participantes, mas isto não significa que devemos procurar fazer amigos simplesmente pensando em obter vantagens pessoais. Infelizmente, sabendo que a amizade é um relacionamento de identificação, muitos são aqueles que procuram desenvolver essa forma de amor com motivos interesseiros. Querem ser amigos de determinadas pessoas, simplesmente porque isso lhes trará determinadas vantagens, seja um objeto valioso, fama, posição social, etc. Esse problema foi constatado pelo próprio Salomão. Nas suas palavras, “ao generoso, muitos o adulam, e todos são amigos do que dá presentes”[6]. Nessa passagem o sábio denuncia os motivos interesseiros que movem certas amizades. Além disso, o texto deixa implícito que a amizade que começa dessa forma, em bem pouco tempo, será transformada em adulação. No sentido mais rigoroso do termo, alguém que procura estabelecer uma amizade visando unicamente angariar vantagens pessoais, nem pode ser classificado como amigo, mas como um adulador, uma espécie de sanguessuga que não pensa em outra coisa a não ser em satisfazer a sua natureza de parasita. Um ser semelhante à raposa que aparece das fábulas de Esopo, que tem todos por amigos, somente até conquistar os seus desejos mais egoístas. Mas o seu final é sempre bastante melancólico. Ela sempre termina sem nenhum amigo, entregue a solidão gerada por seu egoísmo. No fundo este é sempre o destino dos interesseiros. Sempre que os seus reais intentos são descobertos, não restará ninguém que queira ser seu amigo. Para repetir um adágio empregado pelos antigos gregos, “até mesmo o homem que vive na mais completa solidão, desfruta mais da amizade do que aquele que vive cercado de amigos, com a única finalidade de explorá-los”[7]. A razão do interesseiro sempre terminar dessa forma é lógica, embora seja trágica. Ele não conquista amigos porque, não está em busca de amizades. De fato, ele está em busca de determinados benefícios e encontra na amizade apenas um meio mais seguro para conquistá-los. Quando ele atinge o seu fim, já não precisa mais do meio, descarta-o como algo irrelevante. Ele está sem amigos porque, no fundo, não queria amigos. Por fim, é verdade que toda amizade traz vantagens para aqueles que dela participam. O interesseiro, não obstante, deixa de considerar que essas vantagens devem ser comuns a ambos os participantes. Do contrário, a amizade tem a sua verdadeira natureza suprimida. Essa questão será melhor discutida no princípio de reciprocidade.

Em segundo lugar, a franqueza implica na confrontação do amigo com a verdade quando a situação assim o requer. Isso significa que o amigo não está autorizado a mentir em nome da amizade. Mas o que dizer daqueles amigos que não suportam a verdade? O amigo que não é capaz de assimilar uma verdade, embora ela seja a princípio dolorosa, é porque a sua própria amizade é uma mentira. É somente quem vive na mentira que sente prazer nela e fica incomodado com a verdade. Em geral, a verdade não separa amizades verdadeiras. Tudo que ela faz é denunciar as falsas. “O que encobre a transgressão, adquire amor, mas o que traz o assunto a baila separa os maiores amigos”[8]. Com esse texto o sábio não está defendendo uma atitude de conivência em relação ao erro. Na verdade, ele está perfeitamente de acordo com o seu tom crítico, às vezes satírico, em relação às falsas amizades. Além disso, em um outro provérbio, o sábio aconselha: “Pleiteia a tua causa diretamente com o teu próximo, e não descubra o segredo de outrem”[9]. No fundo, o que ele deseja é demonstrar que, alguns considerados amigos, logo abandonam seu companheiro quando são confrontados com a verdade. Quando ele afirma que quem encobre a transgressão adquire amor, é impossível não perceber a sua veia irônica. O que ele dispensa é um falso amor, movido unicamente pela conveniência. Um relacionamento dessa natureza, não pode ser classificado como amizade. O amigo está aberto à verdade, ainda que essa verdade contrarie a sua vontade. A nosso ver, ou estamos falando de conceitos bem distintos, ou C. S. Lewis está completamente equivocado ao afirmar que a amizade pode ser considerada uma escola do vício. Parece absurdo que o mais primordial dos amores contenha, em sua essência, uma inclinação para o vício. A não ser que o pensador irlandês esteja falando das falsas amizades. Mas estas são tão desvirtuadas, tão corrompidas, que nem merecem ser classificadas como tal.

Por fim, o princípio da franqueza implica em uma atitude de fidelidade entre os amigos. Toda amizade verdadeira é um pacto, uma aliança entre duas ou mais pessoas. Essa aliança exige a dedicação sincera dos amigos entre si. Essa fidelidade, entretanto não significa que uma das partes tenha que compactuar com os erros do seu companheiro. Para citar as palavras de Cícero, “a primeira lei da amizade é não pedir nem conceder nada de vergonhoso”[10]. Assim, constitui-se em um erro crasso empregar a fidelidade para justificar os atos mais baixos entre os amigos. A fidelidade é uma das principais virtudes cristãs. Contudo, em nenhum código de ética, a virtude tem comunhão com o vício. É verdade que alguns, ditos amigos, empregam o princípio da fidelidade para justificar o erro. Não obstante, essa tendência perniciosa é fruto da confusão entre fidelidade e cumplicidade. O exemplo abaixo, embora seja hipotético, ilustra bem essa confusão.

Uma jovem A tem uma amiga B cuja fidelidade ela considera acima de qualquer suspeita. A amiga A confia todos os seus segredos à amiga B, tendo-a como sua confidente. Em um belo dia a amiga A descobre que está grávida de seu namorado. Desesperada e temendo a reação dos familiares, ela resolve seguir o conselho do namorado e abortar o bebê. Antes de abortar, como sempre, ela conta todo o caso à amiga B e pede que ela mantenha sigilo absoluto acerca do assunto. A amiga A confia inteiramente na fidelidade da amiga B e sabe que ela jamais revelará o segredo. Surge, então, o questionamento: diante de uma situação como esta, o que significa ser fiel? Para a amiga A ser fiel significa guardar o segredo a qualquer custo, pensamento compartilhado pela amiga B. Contudo, ambas estão igualmente equivocadas. Entre as supostas amigas não há fidelidade, mas apenas a falsificação mais barata e grotesca desse princípio: a cumplicidade. A fidelidade é um princípio cristão. Trata-se da dedicação incondicional, mas consciente a uma determinada pessoa. A cumplicidade, por sua vez transmite a idéia da participação em uma situação moralmente injustificável por conta do apego a outrem. Do ponto de vista jurídico, o cúmplice que é alguém que, mesmo não participando diretamente, torna-se culpado de determinado crime. Espiritualmente falando, trata-se da participação em pecados de outras pessoas. É o que pode ser percebido na exortação de Paulo a Timóteo: “Não te tornas cúmplice de pecados de outrem”[11].

Embora a confusão entre fidelidade e cumplicidade seja freqüente em relação à amizade, quando os termos são analisados a fundo, percebe-se a grande oposição entre ambos. A fidelidade é baseada na verdade, a cumplicidade, na mentira, o primeiro é guiado por um sentimento altruísta, o segundo, por um egoísmo cego, um visa o maior bem, o outro uma mera conveniência. Ser fiel a alguém não significa encobrir os seus erros. Não há ninguém mais fiel do que Deus, mas também não há ninguém que mais denuncie o pecado dos homens. Nunca deve ser esquecido que as virtudes cristãs caminham de mãos dadas. No caso da fidelidade, a verdade e a justiça são suas companheiras inseparáveis. Engana-se completamente aquele que acha que assumindo uma postura de cumplicidade está fazendo o bem ao seu amigo. A cumplicidade não torna as pessoas melhores. No fundo ela corrompe ainda mais a sua conduta, já que anula a sua sensibilidade ao erro. Para usar as palavras de Salomão, “o homem que lisonjeia o seu próximo, arma-lhe uma rede aos passos”[12]. Além disso, como pode ser observado no exemplo anterior, ela acaba punindo pessoas inocentes. Já aprendemos com o sábio que a fidelidade pode ser comprovada pela ferida. Não é a ausência de dor que autentica a fidelidade, mas a presença constante da verdade.

A franqueza evita o mexerico, pratica tão nociva à natureza da amizade. Nesse sentido, Pascal está correto ao afirmar em seus Pensamentos que “se todos os homens soubessem o que dizem uns dos outros, não haveria quatro amigos no mundo”[13]. Como pode ser observado, a prática do mexerico, ao violar o princípio da franqueza, destrói o mais primordial dos amores. Disso se conclui que o princípio da franqueza e o princípio da constância estão relacionados.

Para concluir, é extremamente problemático conceber a amizade verdadeira do dissociada da franqueza. Sem esse princípio, duas pessoas podem ser cúmplices, compassas, parceiros, aliados, menos amigos verdadeiros. É até concebível que os falsos amigos possam simular a franqueza, mas é impossível que os verdadeiros não procurem partilhar desse princípio divino. E aqueles cristãos sinceros que, no princípio, tiveram que reduzir sua lista de amigos pela metade? Seria o caso de enfrentarem uma redução ainda mais drástica com este segundo princípio? Se essa redução significar a eliminação dos aduladores e dos cúmplices, que isso lhes seja motivo de regozijo e não de frustração.


Notas:

1. Provérbios 25:5,6.

2. FOCÍLIDES DE MILETO. In: Líricos griegos: elegíacos y yambógrafos. Vol. I. Barcelona: Ediciones Alma Máster S. A., 1956. p. 137.

3. TEOGNIS. In: Líricos griegos: elegíacos y yambógrafos. Vol. II. Barcelona: Ediciones Alma Máster S. A., 1956. p. 174.

4. CÍCERO. Diálogo sobre a amizade. (Versão para ebook). Disponível em <http://www.ebooksbrasil.com/> (Acessado em 15 de novembro de 2007).

5. C. S. Lewis discorda desse ponto de vista. Segundo o pensador cristão, a amizade possui um caráter ambíguo. Ela é tanto uma escola da virtude, como uma escola do vício.

6. Provérbios 19:6.

7. Ad tempora.

8. Provérbios 17:9.

9. Provérbios 25:9.

10. CÍCERO. op. cit. p. 27.

11. I Timóteo 5:22.

12. Provérbios 29:5.

13. PASCAL, Blaise. Pensamentos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.


Postado por J. Marques

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A Obediência na Pregação traz verdadeiras conversões. Jn 3

Uma ênfase exacerbada no evangelismo tem trazido muitos danos a igreja cristã. Há um grande numero de igrejas superlotadas à procura de sinais, milagres, curas, línguas, etc.


A cada ano o IBGE atesta o crescimento da igreja evangélica. Contudo, o que vemos é a ascendência de um grupo de pessoas que abandonaram os princípios essenciais da fé evangélica. A conversão, para esses grupos, não passa de uma experiência mística que deve ser fortalecida a cada semana através de sinais extraordinários. Para outros grupos a conversão é a mudança da vida financeira, a melhora nos problemas pessoais, familiares.


Menos pessoas entendem o que significa a conversão como ensinada nas escrituras. Assim, o que é conversão de pecados? O que é necessário para haver conversão verdadeira?

A obediência do pregador v. 1-3

Após toda a experiência de Jonas, finalmente se reconciliou com Deus. A aflição traz alguns benefícios: nos reduz ao lugar de onde desertamos. Sl 119: 71 “foi-me bom ter passado por aflição, para que aprendesse os teus decretos”. Veja a graça divina trabalhando com a aflição. Veja a responsabilidade de todos aqueles para o qual a palavra de Deus vem. Jonas levantou-se imediatamente e foi pregar em Nínive segundo a palavra de Deus. Os servos de Deus devem ir aonde ele envia.


Jonas não era um pregador conhecido ou poderoso naquele país. O profeta não realizou nenhum sinal grandioso, ou fez milagres para o povo se converter. Nem ao menos citou a profecia que o tinha consagrado e tornado uma pessoa conhecida em seu país. Ao contrário, Jonas chegou em Nínive física e espiritualmente humilhado. Os ácidos gástricos haviam queimado a pele e rosto de Jonas, o que o tornava asqueroso e repelente, não atrativo. O episódio no grande peixe tinha deixado o profeta confiante somente em Deus.


Jonas chegou a contra gosto, pregando uma mensagem que não queria. Devemos lembrar que o profeta não queria que o povo se convertesse, assim temos um pregador falando sem motivação, entusiasmo, e esperança de sucesso nos seus sermões.


Contudo, Jonas foi fiel a mensagem de Deus. Apesar de todas essas contrariedades no coração do profeta, ele foi fiel e anunciou o evangelho. “Levantou-se .... começou a percorrer a cidade.... e pregava” 3-4.


A obediência de Jonas nos lembra o que se requer do despenseiro é que seja achado fiel - 1 Cor 4:2. “ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel”. É necessário obediência de ir para levar as boas novas – Rm 10:17. “e como pregarão, não foram enviados? Como está escrito: quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas”. Deus valoriza não a aparência ou poder do pregador, mas sua obediência.

A supremacia da pregação – v. 4-9

Jonas entregou uma mensagem, aparentemente simples: “ainda 40 dias e Nínive será destruída”. Ele foi enviado como um arauto na iminência de uma guerra. Jonas saiu a percorrer uma cidade que era grande e principal do mundo gentílico da época.


Deus já havia mostrado sua graça para cidades pecaminosas como Sodoma e Gomorra, Tiro e Sidom, e agora queria mostrar sua misericórdia a Nínive. Porque Deus escolheu essa cidade e não Társis ou Jope não é dito, apenas devemos obedecer onde Ele mandar. Não devemos encher Deus de perguntas quando não temos como compreender as respostas. Apenas pregue.


O conteúdo da mensagem de Jonas era o mesmo: denunciar a maldade dos homens de Nínive como tendo incomodado tanto Deus que ele desceria para puni-los. Deus não muda, nem a sua palavra.


A demonstração de arrependimento dos ninivitas é até cômica, mas muito sincera: cobrir os animais com as mesmas roupas que eles usariam e nem um deles deveria comer ou beber. Imagine os ninivitas correndo atrás dos animais para que não fossem para os riachos ou comer gramas; uma vez que não havia currais, eles tiveram muito trabalho. A demonstração de fé nos novos convertidos é ao mesmo tempo sincera e engraçada.


Essa atitude era comum em velórios e funerais: roupas desconfortáveis, jejum, sentar-se sobre cinzas – E.g. Jó quando soube das desgraças, das perdas dos filhos e seus bens. Eles queriam comunicar o seguinte: “igual a tristeza de um funeral é a tristeza de saber que nossos pecados estavam causando em Deus”.


Jesus interpreta que os ninivitas serão, um dia, testemunhas contra os que não creram Mateus 12:41 “Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas”.


Os ninivitas clamaram a Deus: “quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos”. A verdadeira pregação leva o homem a Deus, pois este está perdido, inimigo de Deus.


A pregação que salva continua a mesma dos dias de Jonas: advertir sobre a ira/justiça de Deus e o arrependimento. A pregação não deve ser substituída por gostos modernos – 1 Coríntios 1:18, 21-25. A pregação autêntica traz os verdadeiros frutos – aqueles que são de Deus virão – no livro “alimentando ovelhas ou entretendo bodes” Spurgeon diz: ‘O diabo tem raramente feito alguma coisa mais sagaz do que sugerir à igreja que parte da sua missão consiste em proporcionar entretenimento ao povo, com vistas a ganha-lo... em primeiro lugar nas escrituras é dito que prover divertimento para as pessoas não é função da igreja. Se isso fosse função da igreja, por que Cristo não falou sobre isso?... Deus chamou pastores, missionários, mestres para o ministério. Onde se incluem os que entretêm pessoas?... Se Cristo tivesse introduzido mais elemento festivos e agradáveis à sua missão, ele teria sido mais popular, quando as pessoas se afastavam dEle por causa da natureza perscrutadora e penetrante do seu ensino. Mas eu não O ouço dizendo: ‘corre atrás destas pessoas, Pedro, e diga a elas que teremos um estilo de culto diferente amanhã, algo mais breve e atrativo, com pouca pregação...’ Jesus se compadecia dos pecadores, preocupava-se e chorava por eles, mas nunca procurou diverti-los’.

Misericórdia de Deus - v. 10

Deus viu o arrependimento dos ninivitas e então se arrependeu do mal que disse que faria. Não quer dizer que Deus mudou no seu ser. A bíblia afirma que Deus é imutável. Deus é imutável no seu ser: Nm 23:19 “Deus não é homem para que minta; nem filho do homem para que se arrependa”. Deus é imutável nos seus planos: Jó 23: 13-14; “pois ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo” 42:2; “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado”. Pv 19: 21. Deus é imutável nas suas promessas: 2 Tm 2:13 “Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de modo nenhum pode negar-se a si mesmo”. Deus é imutável nos seus atributos: Amor – Jr. 31:3; “de longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí”. Verdade – Sl 119: 89; “Para sempre ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu” Lc 21: 33; Misericórdia – Ml 3:6 “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos”.


A Bíblia afirma que Deus é móvel, i.e. não uma estátua. Deus resolve tomar uma de duas decisões se suas criaturas seguirem determinado caminho. Deus muda quando suas promessas ou ameaças são condicionadas à obediência do homem. “Se” 2 Crônicas 7:14 “Se o meu povo que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei do céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra”. Deuteronômio 28: 2, 15 “Se ouvires a voz do Senhor, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos .... Se porém não deres ouvidos à voz do Senhor, teu Deus, .... então virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão...”. Não é uma mudança no ser de Deus, mas uma escolha que Ele dá ao homem, e baseado nessa escolha Ele toma sua decisão. Ele dá oportunidade do homem escolher entre a sua justiça e a sua misericórdia.



Postado por Francimar Lima