quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Lutero e a Escravidão da Vontade - Parte I

Introdução

“A escravidão da vontade”, de onde o resumo “Nascido Escravo” foi tirado, foi escrita por Martinho Lutero como reação aos ensinamentos de Desidério Erasmo. O qual era um humanista, pois acreditava que os homens podem conquistar a salvação, ao invés de dependerem exclusivamente de Jesus Cristo – em Sua morte e ressurreição. Erasmo nasceu entre 1466–1469 em Rotterdam, na Holanda. Ele foi monge agostiniano durante sete anos, e isto aconteceu antes de viajar para Inglaterra, onde fora motivado a aprofundar seu conhecimento do grego, chegando a produzir um texto crítico do Novo Testamento grego (1516). Rejeitava os métodos fantasiosos de interpretação das Escrituras, bem como as superstições dos mestres da Igreja Católica Romana. Erasmo sempre preferia uma abordagem simples do ensinamento Cristão aos complicados e pormenorizados métodos dos teólogos profissionais. Ele evitava as controvérsias, e, por longo tempo, não procurou tratar publicamente sobre o conceito do “livre-arbítrio”. No verão de 1523, contudo, Ulrico Von Hutten, outro humanista alemão, forçava Erasmo a se posicionar. Acusava-o de fugir a posicionamentos claros em relação à Reforma e de estar-se distanciando dela.


O posicionamento de Erasmo veio com uma clareza em nada esperada por Lutero. Em princípios de Setembro de 1524, Erasmo de Roterdã publicou sua “Diatribe sobre o livre arbítrio”. Nela posicionou-se abertamente contra uma afirmação central da teologia de Lutero: “sua antropologia. Desafiando desta forma a solicitação de Lutero para que não fizesse tal coisa. Depois da publicação, Erasmo escreveu a Henrique VIII nestes termos: “Os dados foram lançados. O livreto sobre o ‘livre-arbítrio’ acaba de ver a luz do dia”. Tal livreto agradou ao papa e ao Sacro Imperador Romano, e foi elogiado por Henrique VIII. Com essa publicação Lutero teve que se posicionar. Para ele estava claro que a questão era fundamental, mas seria difícil responder a tão indouto livro de douto autor. Lutero sabe, porém, que não poderá esquivar-se de resposta. Amigos instam-no para tanto. As primeiras reações de Lutero apareceram no prefácio à tradução do Eclesiastes, na sua opinião um escrito contra o livre-arbítrio. Em pregação de 9 de outubro de 1524, descreve a impotência do ser humano aprisionado pelo diabo: “Tu és cavalo, o diabo te cavalga.” Só Cristo pode libertar do poder do diabo. Em carta a Espalatino, de 1º de novembro de 1524, confessa que, enojado, não conseguira ler mais do que duas páginas do livro de Erasmo. A resposta , porém, a ser dada a Erasmo, tem que esperar, por várias razões, por exemplo a Guerra dos Camponeses e o próprio casamento de Lutero com Catarina de Bora. Mas por fim foi a pedido de sua esposa que vai, finalmente, elaborar a resposta a Erasmo, O texto é publicado em 31 de Dezembro de 1525.

Em muitos sentidos, porém, a discussão entre Lutero e Erasmo não passou de episódio, pois não provocou o debate das massas, mas colocou-o no centro da discussão da intelectualidade. Essa discussão não foi concluída. Em seu centro está a concepção humanista e reformatória do ser humano.

I. Lutero mostra o que a Bíblia ensina sobre o livre-arbítrio

Romanos 1:18 “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça

Paulo ensina que todos os homens, sem qualquer exceção, merecem ser castigados por Deus. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça.” Se todos os homens possuem “livre-arbítrio”, ao mesmo tempo em que todos, sem qualquer exceção, estão debaixo da ira de Deus, segue-se dai que o “livre-arbítrio” os está conduzindo a uma única direção — da “impiedade e da iniqüidade”. Por¬tanto, em que o poder do ‘”1ivre-arbítrio” os está ajudando a fazer o que é certo? Se existe realmente o “livre-arbítrio”, ele não parece ser capaz de ajudar os homens a atingirem a salvação, porquanto os deixa sob a ira de Deus. Algumas pessoas, no entanto, acusam-me de não se¬guir bem de perto a Paulo. Eles afirmam que as palavras dele, “contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” não significam que todos os seres humanos, sem exceção, estão culpados aos olhos de Deus. Eles argumentam que o texto dá a entender que algumas pessoas não “detêm a verdade pela injustiça”. Entretanto, Paulo estava usando uma construção de frase tipicamente hebraica, que não deixa dúvida de que ele se referia a impiedade de todos os homens. Além do mais, notemos o que Paulo escreveu ime¬diatamente antes dessas palavras. No versículo 16, Paulo declara que o evangelho é “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”. Isso significa que, não fosse o poder de Deus conferido através do evangelho, ninguém teria forças, em si mesmo, para voltar-se pára Deus. Paulo prossegue, asseverando que isso tem aplicação tanto aos judeus quanto aos gentios. Os judeus conheciam as leis di¬vinas em seus mínimos detalhes, mas isso não os poupou de estarem debaixo da ira de Deus.

Lutero mostra com base nesse versículo que quanto mais o “livre-arbítrio” se esforça, tanto piores tornam-se as coisas, e que ninguém tem a capacidade de voltar-se para Deus. Deus precisa tomar a iniciativa e revelar-se a eles, e que se fosse possível ao “livre-arbítrio” dos homens descobrir a verdade, certamente algum judeu, em algum lugar, tê-lo-ia feito! E que nem os mais elevados raciocínios dos gentios e os mais intensos esforços dos melhores dentre os judeus (Rm 1:21; 2:23,28,29) não conseguiram aproxima-los nem um pouco sequer da fé em Cristo.

Postado por Elias Lima