terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O DESAFIO DA PREGAÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE (Parte 3)

A perda de uma fundamentação Bíblica

Lamentavelmente podemos perceber em nossos dias uma crescente tendência no meio evangélico em querer focalizar no púlpito aquilo que é relevante, conseqüência, é claro, de uma não leitura das Sagradas Escrituras. Muitas das pregações que ouvimos hoje dão mais importância a psicologia, que desde a década de oitenta vem entrando na igreja como o novo paradigma de santificação; ao comentário social e a retórica política. A pregação da palavra de Deus fica em segundo plano, porque segundo eles a psicologia, por exemplo, é necessária para ajudar as pessoas com seus problemas e a crescerem espiritualmente. Mas tais pessoas esquecem que o Espírito Santo não precisou da psicologia no passado, e também não precisa hoje no presente. Isso porque o Espírito Santo foi e é capaz de cumprir a obra de Deus antes que Sigmund Freud, que foi um ateísta, ter inventado a psicologia. O único paradigma para a santificação é a palavra de Deus, como a mesma diz: “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação.”(1 Coríntios 1:21).

Não se pode negar que a perda de uma fundamentação bíblica é não somente o motivo primário do declínio da pregação na igreja contemporânea, como também o principal fator que contribui para a debilidade e mundanismo na igreja, e isto pelo fator que, para a igreja contemporânea, a pregação da palavra não é relevante. Creio que MacArthur foi muito feliz, quando no seu livro redescobrindo o ministério pastoral, citou Jay E. Adams, que fala sobre o assunto como segue:

“O problema de tal abordagem na pregação é que os pregadores de hoje não têm autoridade para pregar suas próprias noções e opiniões; eles devem ‘pregar a palavra’ apostólica registrada nas Escrituras. Sempre que os pregadores se afastam do propósito do trecho bíblico, perdem sua autoridade para pregar. Em suma, o propósito de ler, explicar e aplicar um trecho das Escrituras é obedecer à ordem de ‘pregar a palavra’. De nenhuma outra maneira podemos esperar vivenciar a presença e o poder do Espírito Santo em nossa pregação. Ele não gastou milhares de anos produzindo o Antigo e o Novo Testamento (em certo sentido, a Bíblia é peculiarmente Seu livro) para depois ignorá-lo! Aquilo que Ele ‘inspirou’ os homens a escrever, agora nos motiva a pregar. Ele não prometeu abençoar nossas palavras; tal promessa estende-se apenas à Sua própria palavra (Is. 55:10-11 ‘Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.’) Uma vez que... não há pregação genuína onde o Espírito de Deus não esteja atuando, podemos dizer que o propósito fundamental da pregação baseada na Bíblia é simplesmente que, em qualquer sentido genuíno da palavra, possamos pregá-la!”

Acredito que os lideres, das assim chamadas igrejas contemporâneas, deveriam olhar para a história da igreja, principalmente nos Atos dos Apóstolos, e notar que no período apostólico, a ênfase e fundamentação que eles davam a pregação era a pregação da Palavra. Apesar de ter na igreja primitiva muitos problemas como: perseguições externas, necessidades dos santos no que diz respeito ao alimento aos necessitados e viúvas e etc; eles, sem dúvida nenhuma, sabiam que estas coisas eram relevantes, embora também um problema social e talvez em parte político, mas de certa forma competiria à igreja cristã, e aos seus líderes em particular, cuidar daquela premente necessidade. Só que eles não trocavam a pregação da Palavra por um comentário social ou uma retórica política. E isso por que? Paulo nos responde em sua primeira carta a Timóteo, no verso quinze do capítulo três, quando diz que a casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, é a coluna e baluarte da verdade. Desta feita, gostaria de endossar as palavra do Dr. Martyn Lloyd-Jones, o qual diz em seu livro pregação e pregadores, que a Igreja não é uma organização ou instituição social, não é uma sociedade política, não é uma sociedade cultural, mas é “coluna e baluarte da verdade”.

O doutor Lucas que escreveu Atos dos Apóstolos, inspirado por Deus, nos relata no versículo quatro do capítulo oito, que os discípulos que foram dispersos, por causa da perseguição que se fazia à igreja, iam por toda parte pregando a palavra. É interessante nós atentarmos para o que o apóstolo Paulo, em sua segunda epístola, no quarto capítulo e nos primeiros quatro versículos, disse a seu filho na fé Timóteo.

“Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.”

Quando o apóstolo Paulo ordena que Timóteo pregue a palavra, insta quer fosse oportuna, quer não. Ele usa a palavra khruxon “proclamar, pregar”, a idéia aqui, como bem colocou Fritz Rienecker, em sua chave lingüística do Novo Testamento grego, é de estar à mão, estar pronto. A palavra também era usada em sentido militar: estar a postos, mas aqui significa “estar no trabalho”, ou seja, o ministro cristão deve sempre estar trabalhando na proclamação da palavra, quer seja oportuno (no tempo certo, convenientemente), quer não (fora do tempo). Resumindo, Paulo queria que a palavra fosse pregada todo o tempo, pois não chegará uma época, antes da volta de Cristo, quando nós mudaremos esta comissão, nenhum tempo quando esse método de ministério será posto aparte por qualquer um outro. A pregação da Palavra deve ser feita todo o tempo.

As pessoas hoje estão famintas pela palavra de Deus, mas a questão é que elas não sabem isso. Elas estão procurando saciar esta fome, pois entendem que há um vazio em suas vidas, um lugar para ser preenchido, uma falta de entendimento. Elas, porém, não podem resolver os problemas e dilemas da vida. Elas estão famintas pela palavra de Deus, mas não o sabem e lhes estar sendo oferecido uma porção de substitutos que não ajudam. Deus tem ordenado que sua palavra seja trazida a elas, pois só Sua palavra pode alimentá-las e o método para que ela seja entregue é através da pregação. Mas, como disse o apóstolo são Paulo: “como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm. 10:14).

Nossa incumbência não vem da cultura, ela vem do céu. O Deus do céu é quem nos tem incumbido, através das páginas das Sagradas Escrituras, para pregar a Palavra, para pregar cada palavra e trazer as almas famintas a única comida que alimenta, e esta é a palavra da Verdade de Deus, a qual nunca sai de moda, ela é atual todas as manhãs. Como o nosso Senhor Jesus mesmo disse: “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.”(Marcos 13:31).

Li certa vez um artigo muito interessante na Internet. Era acerca de um jovem pastor que tinha acabado de sair do seminário e tinha sido convidado para pastorear uma igreja, numa cidade com várias universidades, nos Estados Unidos. Muitos dos membros dessa igreja eram professores nessas universidades. Ele estava preparando a sua primeira pregação, e ele estava pensando sobre aquela congregação bastante culta, todos aqueles Ph.D.s que estariam lá, e isso o intimidava muito. Então ele chamou seu pai, que era também um pastor muito sábio e piedoso, e lhe disse: “Pai, estou realmente tendo trabalho para preparar minha pregação.” “Qual o problema?” seu pai perguntou. “Bem, se eu falar sobre geologia, eu ficarei olhando para o Ph.D. em geologia. Se eu falar sobre sociologia, ficarei prestando atenção para o Ph.D em sociologia. Se falar sobre filosofia, encararei um Ph.D. em filosofia. O que você acha que eu devo fazer?” Seu pai respondeu: “Filho, porque você não prega apenas a Bíblia? Eles provavelmente sabem muito pouco sobre ela.”

Isto é uma boa ilustração dos nossos dias atuais, pastores querendo pregar sobre assuntos que não tem nenhuma fundamentação bíblica. Eles estão preocupados em impressionar os seus ouvintes com sua própria sabedoria, mas creio que se cada pastor e pregador acreditasse em 1 Coríntios 1:21, que diz: “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação.” (e a pregação aqui é a pregação da Palavra) - Não estariam perdendo o seu tempo em pregar aquilo que eles não foram chamados a pregar.


Postado por Elias Lima