quarta-feira, 11 de março de 2009

Os significados de Amor na Bíblia (Parte 2)

O amor do Homem para com Deus

Outro modo de descrever a posição que uma pessoa deve assumir para receber a plenitude da ajuda amável de Deus consiste em que a pessoa deve amar a Deus. “O SENHOR guarda a todos os que o amam; porém os ímpios serão exterminados.” (Salmos 145:20). “Mas regozijem-se todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome.” (Salmos 5:11;cf. Is 56:6, 7; Salmos 69:36). “Volta-te para mim e tem piedade de mim, segundo costumas fazer aos que amam o teu nome.” (Salmos 119:132).

Esses textos são simplesmente uma defesa na vida das estipulações postas na Aliança Mosaica (a aliança Abraãmica teve as suas condições também, embora o amor não seja mencionado explicitamente: Gên 18:19; 22:16-18; 26:5). Deus disse a Moisés: “e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.”(Êx 20:6; Dt 5:10; Ne 1:5; Dn 9:4). Uma vez que o amável Deus foi o primeiro e a garantia da promessa da aliança, Ele se tornou o primeiro e o grande mandamento na lei: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.”(Dt 6:5).

Este amor não é um serviço feito para Deus ganhar os seus benefícios. Isto é inimaginável: “Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno” (Deuteronômio 10:17). Isto não é um trabalho feito para Deus, mas pelo contrário, uma aceitação feliz e admiradora do Seu compromisso de trabalhar para aqueles que confiam nele (Sl 37:5; Is 64:4). Desta forma a Lei Mosaica começa com a declaração que mantém a grande promessa a Israel: “Eu Sou o Senhor vosso Deus que vos tirou da terra do Egito” (Ex 20:2). A ordem de amar a Deus é uma ordem de deleitar-se com Ele e admirá-Lo antes de mais nada e ser contente com o Seu compromisso de trabalhar poderosamente para a sua gente. Assim, diferentemente do amor de Deus por Israel, o amor de Israel para com Deus foi uma resposta ao que Ele tinha feito e faria a favor deles (cf. Dt 10:20-11:1). O caráter de resposta do amor do homem para com Deus é visto também em Js 23:11 e Sl 116:1. Nas suas expressões mais perfeitas, ele se tornou a paixão de toda a consumação da vida (Sl 73:21-26).

O Amor do homem para com o homem

Se uma pessoa admira e adora a Deus e encontra o cumprimento tomando refúgio no seu cuidado compassivo, então o seu comportamento para com seu próximo refletirá o amor de Deus. O segundo grande mandamento do Antigo Testamento, como Jesus o chamou (Mt 22:39), vem de Levítico 19:18, “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR.” O termo “próximo” aqui, provavelmente quer dizer outro israelita. Mas em Levítico 19:34, Deus diz: “Como o natural, será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.”

Podemos entender a motivação do amor aqui, se citarmos uma passagem paralela em Deuteronômio 10:18, 19, "que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes. Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito." Esta é uma passagem paralela a Levítico 19:34, porque tanto se refere a permanência de Israel no Egito como ao mandamento de amar ao próximo. Mas, o mais importante, as palavras "Eu sou o Senhor o seu Deus" em Levítico 19:34, são colocadas em Deuteronômio 10:12-22, como uma descrição do amor, justiça e feitos poderosos de Deus por Israel. Os Israelitas deveriam mostrar o mesmo amor ao próximo, da mesma forma que Deus mostrou para com eles. Levítico 19 também começa com um mandamento: “Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo”. Depois a frase: “Eu sou o Senhor” é repetida quinze vezes no capitulo 19 depois de ordens individuais. Assim, a intenção do capitulo é dá um exemplo especifico de como ser santo como Deus é santo. Visto no vasto contexto de Deuteronômio 10:12-22, isto significa que o amor de uma pessoa pelo seu próximo deve provir do amor de Deus e assim refletir Seu caráter.

Devemos notar que o amor ordenado aqui, diz respeito tanto aos atos externos quanto as atitudes internas. “Não aborrecerás teu irmão no teu íntimo” (Lv 19:17). “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo” (Lev 19:18). E amar teu próximo como a ti mesmo, não significa ter uma auto-imagem positiva ou a alta auto-estima. Significa usar o mesmo zelo, a inventividade e a perseverança para procurar a felicidade do seu próximo da mesma forma que você procura a sua própria. Para outros textos sobre o amor próprio veja: Pv 19:8; 1 Sm 18:1, 20:17.

Se o amor entre os homens é para refletir o amor de Deus, ele terá que incluir o amor aos inimigos, pelo menos em algum grau. Pois o amor de Deus por Israel era livre, imerecido e tardio para se irar, perdoando muitos pecados que criaram inimizade entre Ele e Seu povo (Êx 34:6, 7). E Sua misericórdia se estende além das frontearas de Israel (Ge 12:2, 3; 18:18; Jonas 4:2). Portanto, encontramos instruções para amar o inimigo. “Se encontrares desgarrado o boi do teu inimigo ou o seu jumento, lho reconduzirás. Se vires prostrado debaixo da sua carga o jumento daquele que te aborrece, não o abandonarás, mas ajudá-lo-ás a erguê-lo.”(Ex 23:4, 5). “Quando cair o teu inimigo, não te alegres” (Pv 24:17). “Se o que te aborrece tiver fome, dá-lhe pão para comer” (Pv 25:21). Veja também Pv 24:29; 1 Rs 3:10; Jo 31:29, 30; 2 Rs 6:21-23.

Mas este amor pelo inimigo deve ser qualificado de duas maneiras: primeiro, no Antigo Testamento a maneira com que Deus trabalhava no mundo tinha uma dimensão política que não se tem hoje. Seu povo era uma étnica distinta e um grupo político e Deus era seu legislador, seu rei e seu guerreiro de uma forma bem direta. Assim, por exemplo, quando Deus decidia punir os Cananitas por sua idolatria, Ele usava Seu povo para expulsá-los (Det 20:18). Este ato realizado por Israel não pode ser chamado de amor por seus inimigos (Cf. Dt 7:1,2; 25:17-19; Ex 34:12). Devemos entender de tais atos como exemplos especiais na história da redenção, em que Deus usa Seu povo para executar Sua vingança (Dt 32:35;Js 23:10) sobre uma nação iníqua. Tais exemplos não deveriam ser usados hoje para justificarem a defesa própria ou as guerras santas, uma vez que os propósitos de Deus no mundo hoje não são cumpridos através de um grupo étnico político como foi Israel no Antigo Testamento.

A segunda qualificação do amor inimigo é requerida pelos salmos, nos quais o salmista declara o seu ódio por homens que desafiam Deus, “Tomara, ó Deus, desses cabo do perverso; apartai-vos, pois, de mim, homens de sangue. Eles se rebelam insidiosamente contra ti e como teus inimigos falam malícia. Não aborreço eu, SENHOR, os que te aborrecem? E não abomino os que contra ti se levantam? Aborreço-os com ódio consumado; para mim são inimigos de fato.” (Sl 139:19-22) O ódio do salmista é baseado no seu desafio contra Deus e é concebido como alinhamento virtuoso com o próprio ódio de Deus por malfeitores (Sl 5:4-6; 11:5; 31:6; Pv 3:32; 6:16; Os 9:15). Mas tão estranho como pode parecer, este ódio não necessariamente resulta na vingança. O salmista deixa isto nas mãos de Deus e até trata esses odiados amavelmente. Isto é visto em Sl 109:4, 5 e 35:1, 12-14.

Pode haver duas maneiras que justifica este ódio. De um lado, poderia às vezes representar uma forte aversão para com a má vontade que procura a destruição de pessoa. Doutro lado, onde há uma vontade para a expressa destruição, ela pode representar a certeza dada por Deus de que a pessoa mal está além do arrependimento sem esperança de salvação e portanto debaixo da justa sentença de Deus expressada pelo Salmista (compare 1 João 5:16).

Além dessas dimensões mais religiosas do amor, o Antigo Testamento é rico com ilustrações e instruções do amor entre pai e filho (Ge 22:2; 37:3; Pv 13:24), mãe e filho (Ge 25:28), esposa e marido (Jz 14:16; Ec 9:9; Ge 24:67; 29:18, 30, 32; Pv 5:19), amantes (1 Sm 18:20; 2 Sm 13:1), escravos e senhores (Ex 21:5; Dt 15:16), o rei e seus sujeitos (1 Sm 18:22), um povo e seu herói (1 Sm 18:28), amigos (1 Sm 18:1; 20:17; Pv 17:17; 27:6), nora e sogra (Rt 4:15). Especialmente digno de ser notado está o livro de Cantares, que manifestar o prazer sadio no cumprimento sexual do amor entre um homem e uma mulher.

O Amor do homem para com as coisas

Há alguns exemplos no Velho Testamento do amor simples, diário de coisas: Isaac amou certa carne (Gê 27:4); Uzias amou o solo (2 Crôn 26:10); muitos amam a vida (Sl 34:12). Mas normalmente quando o amor não é dirigido em direção a pessoas é dirigido a virtudes ou vícios. Em sua maioria, este tipo de amor é simplesmente um fruto inevitável do amor de alguém por Deus ou rebelião contra o Deus.

Do lado positive, há amor pelos mandamentos de Deus (Sl 112:1; 119:35, 47), Sua lei (Sl 119:97), Sua vontade (Sl 119:140) e Sua Salvação (Sl 40:16). Os homens tem que amar o bem e odiar o mal (Am 5:15), amar a verdade e a paz (Zac 8:19) amar a misericórdia (Mq 6:8) e a sabedoria (Pv 4:6). Do lado negativo, nós encontramos pessoas amando o mal (Mq 3:2), a mentira e a falsa profecia (Sl 4:2; 52:3, 4; Zc 8:17; Jr 5:31; 14:10), os ídolos (Os 9:1, 10; Jr 2:25), a opressão (Os 12:7), a maldição (Sl 109:17), a preguisa (Pv 20:13), a loucura (Pv 1:22), a violência (Sl 11:5) e o suborno (Is 1:23). Em resumo, muitas pessoas "amam a sua vergonha mais do que a sua honra” (Os 4:17), que é o mesmo quanto amar a morte (Pv 8:36). A soma da matéria é que a satisfação não deve ser tida na colocação de afetos de alguém sobre qualquer coisa senão a Deus (Cf Ec 5:10; 12:13).

Daqui a algumas semanas postaremos a terceira parte, deste artigo de John Piper, que falará do Amor no Novo Testamento.

Tradução: Elias Lima