quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Lutero e a Escravidão da Vontade - Parte II


Romanos 3:9 “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado


Precisamos permitir que Paulo explique o seu próprio ensinamento. Diz ele em Romanos 3:9 “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado” Não somente são todos os homens, sem qualquer exceção, considerados culpados a vista de Deus, como tambem são escravos desse mesmo pecado que os torna culpados. Isso inclui os judeus, os quais pensavam que não eram servos do pecado porque possuíam a lei de Deus. Mas, visto que nem judeus nem gentios tem-se mostrado capazes de desvencilharem-se dessa servidão, torna-se evidente que no homem não há poder que o capacite a praticar o bem. Essa escravidão universal ao pecado inclui até mesmo aqueles que parecem ser os melhores e mais retos. Não importa o grau de bondade que um homem possa alcançar; isso não é a mesma coisa que possuir o conhecimento de Deus.

Romanos 3:19 “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus

Neste trecho, Paulo declara que toda boca se calará diante de Deus, porque ninguém poderá argumentar contra o julgamento divino, visto que nada existe, em pessoa alguma, digno de ser elogiado pelo Senhor —nem ao menos um arbítrio livre para voltar-se espontaneamente para Ele. Se alguém disser: “Tenho uma capacidade própria, ainda que pequena, de voltar-me para Deus”, esse alguém deve estar querendo dizer que pensa que nele há alguma coisa a qual Deus possa elogiar e não condenar. Sua boca não está calada, mas tal idéia contradiz as Escrituras. Deus ordenou que toda boca ficasse calada. Não é apenas certos grupos de pessoas que são culpados diante de Deus. Não apenas os fariseus, dentre o povo israelita, estão condenados. Se isso fosse verdade, então os demais judeus teriam tido alguma capacidade própria para guardar a lei e evitar de tornarem-se culpados. Porém, até mesmo os melhores dentre os homens estão condenados por sua impiedade. Estão espiritualmente mortos, da mesma forma que aqueles que de maneira alguma procuram guardar a lei de Deus. Todos os homens são ímpios e culpados, e merecem ser punidos por Deus.

Romanos 3:20 “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.”

Aqui Lutero refuta o argumento feito por Erasmo a favor do “livre-arbítrio”, pois segundo ele a lei não nos teria sido dada se não fôssemos capazes de obedecê-la. Lutero responde: “Erasmo, por repetidas vezes você tem dito: “Se nada podemos fazer, qual é o propósito das leis, dos preceitos, das ameaças e das promessas?” A resposta é que a lei não foi dada para mostrar-nos o que podemos fazer. Nem mesmo a fim de ajudar-nos a fazer o que é correto. Diz Paulo, em Romanos 3.20: “...pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. O propósito da lei foi o de mostrar-nos no que consiste o pecado e ao que ele nos conduz a morte, ao inferno e a ira de Deus. A lei só pode destacar essas coisas. Não pode livrar-nos delas. O livramento nos chega exclusiva¬mente através de Cristo Jesus, que nos é revelado através do evangelho. Nem a razão nem o “livre-arbítrio” podem conduzir os homens a Cristo, visto que a razão e o “livre¬-arbítrio” precisam da luz da lei para mostrar-lhes sua enfermidade. Paulo faz esta indagação em Gálatas 3. 19: “Qual, pois, a razão de ser da lei?” Entretanto, a resposta de Paulo a sua própria pergunta é o contrário da resposta que você e Jerônimo dão. Você diz que a lei foi dada a fim de provar a existência do “livre-arbítrio”. Jerônimo diz que ela tem o propósito de restringir o pecado. Mas Paulo não diz nada disso. Seu argumento todo é que os homens precisam de graça especial para combaterem contra o mal que a lei desvenda. Não pode haver cura enquanto a enfermidade não for diagnosticada. A lei é necessária para fazer os homens perceberem a perigosa condição em que estão, a fim de que anelem pelo remédio que se encontra somente na pessoa de Cristo.

Romanos 10:20 “E Isaías a mais se atreve e diz: Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim.”

Acredito que, aqui está uns dos argumentos mais forte de Lutero que ele usou, baseado na palavra de Deus. Ele começa dizendo: “Em Romanos 10:20, Paulo cita de Isaias 65:1: ‘Fui buscado pelos que não perguntavam por mim; fui achado por aqueles que não me buscavam; a um povo que não se chamava do meu nome, eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui’. E conclui. Paulo reconhecia, por sua própria experiência, que ele não buscara a graça de Deus, mas a recebera apesar de sua furiosa cólera contra ela. Diz Paulo, em Romanos 9.30,3 1, que os judeus, que envidavam grandes esforços para observar a lei, não foram salvos por esses esforços, mas que os gentios, que eram totalmente ímpios, foram alvos da misericórdia de Deus. Isso demonstra claramente que todos os esforços do “livre-arbítrio” do homem são inúteis para a sua salvação. O zelo dos judeus não os conduziu a parte alguma, ao passo que os ímpios gentios receberam a salvação. A graça é gratuita¬mente ofertada a quem não a merece, nem é digno; não é conquistada por qualquer esforço que o melhor e mais justo dentre os homens tenha tentado empreender.”

João 6:44 “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.

É nesta passagem, que Lutero mostra o que Jesus Cristo diz: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer”. Lutero argumenta dizendo que Isso não deixa qualquer espaço para o “livre-arbítrio”. E ele mostra como o Senhor Jesus passou a explicar como alguém é trazido pelo Pai:“Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim” (v. 45). A vontade humana, por si mesma, é incapaz de fazer qualquer coisa para vir a Cristo em busca de salvação. A própria mensagem do Evangelho é ouvida em vão, a menos que o próprio Pai fale ao coração e traga a pessoa a Cristo. Erasmo pretende suavizar o sentido claro desse texto ao comparar os homens a ovelhas, que atendem ao pastor quando este lhes estende o cajado. Argumenta que nos homens há alguma coisa que responde ao chamado do evangelho. Porém isso não acontece, porque quando Deus exibe o dom de seu próprio Filho a homens ímpios, estes não reagem favoravelmente antes que Ele opere em seus corações. De fato, sem a operação interna do Pai, os homens inclinam-se mais a odiar e perseguir ao Filho, do que a segui-Lo.

Postado por Elias Lima

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Cidade de Deus e a Cidade dos homens

Durante a segunda guerra mundial os judeus e os povos conquistados pelos nazistas ficaram confinados a lugares subumanos, chamados guetos. Alguns filmes (como o pianista, a vida é bela, a lista Schindeler) poderiam dar uma boa visão da vida nos guetos. Ali os prisioneiros de guerra viviam a mercê do exército conquistador; suas casas, empregos, filhos ou filhas, tudo estava a disposição dos alemães. Eles viviam sem informações e sem esperanças. Ali era necessário aprender a ser quem eles não eram, sem poder expressar um mísero sentimento ou pensamento contrário aos seus algozes.


O cristianismo moderno parece viver nos guetos. A igreja está tomando o caminho combatido pela maioria dos reformadores, o isolacionismo. Os crentes mais se parecem reféns do mundanismo que sal e luz. Por causa desse separatismo exagerado, a igreja começa formar os seus guetos, ou seja, formar sua própria cultura, porém influenciada pelo mundo. O crente é advertido a não ouvir música mundana pois há estrelas evangélicas; não precisamos ir ao cinema pois temos a alternativa de filmes evangélicos; não devemos ler tal e tal livro pois precisamos ler a Bíblia e livros evangélicos. Dessa forma a igreja se torna um trampolim para a maioria de artistas não vocacionados na tentativa de ganhar fama e dinheiro.

Mas será que a atitude da igreja de viver nos guetos é normal? Os crentes devem continuar reféns da nossa sociedade moribunda? O que significa o conceito de separação nas sagradas escrituras e qual sua relevância para a igreja hoje?

Deus fez tudo perfeito (Gn. 1:31) sem a distinção do sagrado e secular. O trabalho era veículo da construção do reino de Deus pelo avanço da cultura e de uma civilização piedosa (Gn. 2:15). Não havia evangelismo. A família foi a instituição perfeita para expressar amor e união entre marido e mulher e receber os filhos como benção do Senhor (Gn. 1:28).


A queda trouxe mudanças em tudo. O trabalho deixou de ser feito com prazer para ser “fadiga e dor”. A benção da família ficou ofuscada pela maldição do parto doloroso; o marido e a mulher ficaram como rivais, disputando a liderança do lar; guerra entre marido e mulher, entre a semente da mulher e serpente, (Gn. 3:14-20). A família e o casamento não eram mais sagrados visto que a “casa dos ímpios” e a “casa dos justos” se distinguem. Deus removeu o paraíso para o céu, Gn. 3:24.

Ao ser expulso da cidade de Deus, o homem vive tentando construir sua própria cidade.

A construção da cidade dos homens.

Eva exclamou de alegria ter concebido “um varão, o Senhor”, i.e. o messias que restauraria a paz entre o homem e Deus Gn. 4:1-2. No entanto, este foi o assassino de seu irmão por querer agradar a Deus do seu jeito (4:4-5). Deus requeria sacrifícios assim como Ele fizera no jardim para os seus pais – Adão e Eva. Caim não se arrependeu, mas se irou com Deus. Caim não seria o messias, antes o pai de uma geração que odiaria Deus.

Deus preserva a Vida de Caim, mesmo que ele entendia a necessidade de ser vingado (4:14), foi amaldiçoado por Deus (4:11). Deus livrou Caim para edificar uma cidade (v.17). Os habitantes dessa cidade seriam: (a) criadores de gado ou nômades– v. 20; (b) peritos na música – v. 21; (c) peritos em ferro – v. 22; (d) o primeiro polígamo – v. 23; (e) artistas – v. 23.

A cidade dos homens é audaciosa e desafiadora de Deus – 11:1-9. Os homens estavam proibidos de entrar no Éden ou estabelecer um céu na terra. Babel era um prédio religioso. Assim como o pai da cidade dos homens recusou o meio correto para salvação, os construtores da torre recusaram confiar na promessa de Deus. No verso 4 e 8 fala do interesse dos construtores era edificar uma cidade. Ainda hoje a cidade dos homens prefere confiar na tecnologia a confiar nas mãos potentes de Deus. Os homens queriam subir e Deus preferiu “descer” (11:5). Hoje, com o auxilio do iluminismo, esquecemos que a salvação vem de Deus (Jonas 2:9) e assim confundimos que a construção terrena não é a reconstrução do paraíso. Todos impérios fracassaram nessa investida: Roma, Alemanha, EUA. Jesus diz: “o meu reino não é deste mundo” João 18:36.

A reconstrução da cidade de Deus.

A cidade de Deus não era mais edificada com árvores, rios e animais, mas com pessoas que estivessem dispostas a “invocar o nome do Senhor” – Gn. 4:25-26. Adão já buscava o Senhor através dos sacrifícios ensinados por Deus. Caim e Abel possuíam um princípio de invocar o Senhor, mas com Enos a invocação é plena e completa. Os seus descendentes passam a buscar o Senhor diferentes de Adão, Caim e Abel.

Os cidadãos dessa nova sociedade estão sujeitos a queda e ao fracasso espiritual – Gn. 6:1ss. Mas sempre restará um grupo perseverante nos caminhos de Deus – Gn. 6:29; 6: 8-10; 12:1. e.g. Noé e Abraão.


A cidade de Deus está no céu, mas os seus cidadãos estão na cidade dos homens. Até o dia de voltarmos para esta cidade, devemos usar nossa posição para honrar a Deus na liderança secular, e.g. Daniel e José não procuraram transformar seus cargos em catalisadores de transformação de reino humano em teocracia Bíblicas como Israel foi (ou Calvino em Genebra e os Anabatistas radicais em Münster, Alemanha). Pelo contrario, seguiram sua vocação no mundo com excelência e diligencia, ganhando respeito daqueles regentes estrangeiros e melhorando as vidas daqueles sobre quais exerciam autoridade (1 Ts. 4:11). Os crentes são santos por pertencerem a Cristo e não por estar numa esfera da igreja; contudo, vivem no âmbito profano ou comum. Espera-se a diferença na sua crença e procedimento, atitudes e estilo de vida; mas, não se espera que os crentes convertam o ambiente secular em sagrado. e.g. Daniel e José tomavam decisões baseado nas leis babilônicas e egípcias e não judaicas.

Diante de tudo isso, como o cidadão da cidade de Deus deve viver na cidade dos homens?

Como operários do grande mosaico de Deus. Todo nosso trabalho deve ser feito para a glória de Deus. 1 Ts. 4:11; assim como o mosaico é feito de pedaços geometricamente diferentes, também a obra de Deus. Não está na obra de Deus somente quem trabalha na igreja, mas todo que considera e dedica seus afazeres parte de sua adoração a Deus, 1 cor. 10:31; Col. 3:23.

Como proclamadores das virtudes de Deus. 1 Pe. 2:9-10; 3:15.

Como peregrinos. Há um grande risco de viver em dois mundos: ser monges eremitas ou se misturar com as alfarrobas do mundo. Deus não nos chamou para o isolacionismo nem para o mundanismo, porém para ser sal da terra e luz do mundo. Um dos grandes desafios do cristão é viver numa sociedade totalmente diferente de sua real pátria. Abraão peregrinou pela fé porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador Hebreus 11:9-10.

Nas palavra do hino “a bela cidade”:

Tenho lido da bela cidade,
construída por Cristo nos céus;
é murada de jaspe luzente
e juncada com áureos troféus
e no meio da praça eis o rio do vigor e da vida eternal;
mas metade da glória celeste jamais se contou ao mortal


Tenho lido das belas muralhas
que Jesus foi no céu preparar,
onde os crentes fiéis para sempre mui felizes irão habitar.
Nem tristeza nem dor nem gemidos entrarão
na mansão paternal;
mas metade da glória celeste jamais se contou ao mortal

Tenho lido das vestes brilhantes
das coroas que os santos terão
quando o pai os chamar e disser-lhes:
Recebei o eternal galardão.
Tenho lido que os santos na glória
pisarão ruas de ouro e cristal;
mas metade da glória celeste jamais se contou ao mortal

Postado por Francimar