quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Cidade de Deus e a Cidade dos homens

Durante a segunda guerra mundial os judeus e os povos conquistados pelos nazistas ficaram confinados a lugares subumanos, chamados guetos. Alguns filmes (como o pianista, a vida é bela, a lista Schindeler) poderiam dar uma boa visão da vida nos guetos. Ali os prisioneiros de guerra viviam a mercê do exército conquistador; suas casas, empregos, filhos ou filhas, tudo estava a disposição dos alemães. Eles viviam sem informações e sem esperanças. Ali era necessário aprender a ser quem eles não eram, sem poder expressar um mísero sentimento ou pensamento contrário aos seus algozes.


O cristianismo moderno parece viver nos guetos. A igreja está tomando o caminho combatido pela maioria dos reformadores, o isolacionismo. Os crentes mais se parecem reféns do mundanismo que sal e luz. Por causa desse separatismo exagerado, a igreja começa formar os seus guetos, ou seja, formar sua própria cultura, porém influenciada pelo mundo. O crente é advertido a não ouvir música mundana pois há estrelas evangélicas; não precisamos ir ao cinema pois temos a alternativa de filmes evangélicos; não devemos ler tal e tal livro pois precisamos ler a Bíblia e livros evangélicos. Dessa forma a igreja se torna um trampolim para a maioria de artistas não vocacionados na tentativa de ganhar fama e dinheiro.

Mas será que a atitude da igreja de viver nos guetos é normal? Os crentes devem continuar reféns da nossa sociedade moribunda? O que significa o conceito de separação nas sagradas escrituras e qual sua relevância para a igreja hoje?

Deus fez tudo perfeito (Gn. 1:31) sem a distinção do sagrado e secular. O trabalho era veículo da construção do reino de Deus pelo avanço da cultura e de uma civilização piedosa (Gn. 2:15). Não havia evangelismo. A família foi a instituição perfeita para expressar amor e união entre marido e mulher e receber os filhos como benção do Senhor (Gn. 1:28).


A queda trouxe mudanças em tudo. O trabalho deixou de ser feito com prazer para ser “fadiga e dor”. A benção da família ficou ofuscada pela maldição do parto doloroso; o marido e a mulher ficaram como rivais, disputando a liderança do lar; guerra entre marido e mulher, entre a semente da mulher e serpente, (Gn. 3:14-20). A família e o casamento não eram mais sagrados visto que a “casa dos ímpios” e a “casa dos justos” se distinguem. Deus removeu o paraíso para o céu, Gn. 3:24.

Ao ser expulso da cidade de Deus, o homem vive tentando construir sua própria cidade.

A construção da cidade dos homens.

Eva exclamou de alegria ter concebido “um varão, o Senhor”, i.e. o messias que restauraria a paz entre o homem e Deus Gn. 4:1-2. No entanto, este foi o assassino de seu irmão por querer agradar a Deus do seu jeito (4:4-5). Deus requeria sacrifícios assim como Ele fizera no jardim para os seus pais – Adão e Eva. Caim não se arrependeu, mas se irou com Deus. Caim não seria o messias, antes o pai de uma geração que odiaria Deus.

Deus preserva a Vida de Caim, mesmo que ele entendia a necessidade de ser vingado (4:14), foi amaldiçoado por Deus (4:11). Deus livrou Caim para edificar uma cidade (v.17). Os habitantes dessa cidade seriam: (a) criadores de gado ou nômades– v. 20; (b) peritos na música – v. 21; (c) peritos em ferro – v. 22; (d) o primeiro polígamo – v. 23; (e) artistas – v. 23.

A cidade dos homens é audaciosa e desafiadora de Deus – 11:1-9. Os homens estavam proibidos de entrar no Éden ou estabelecer um céu na terra. Babel era um prédio religioso. Assim como o pai da cidade dos homens recusou o meio correto para salvação, os construtores da torre recusaram confiar na promessa de Deus. No verso 4 e 8 fala do interesse dos construtores era edificar uma cidade. Ainda hoje a cidade dos homens prefere confiar na tecnologia a confiar nas mãos potentes de Deus. Os homens queriam subir e Deus preferiu “descer” (11:5). Hoje, com o auxilio do iluminismo, esquecemos que a salvação vem de Deus (Jonas 2:9) e assim confundimos que a construção terrena não é a reconstrução do paraíso. Todos impérios fracassaram nessa investida: Roma, Alemanha, EUA. Jesus diz: “o meu reino não é deste mundo” João 18:36.

A reconstrução da cidade de Deus.

A cidade de Deus não era mais edificada com árvores, rios e animais, mas com pessoas que estivessem dispostas a “invocar o nome do Senhor” – Gn. 4:25-26. Adão já buscava o Senhor através dos sacrifícios ensinados por Deus. Caim e Abel possuíam um princípio de invocar o Senhor, mas com Enos a invocação é plena e completa. Os seus descendentes passam a buscar o Senhor diferentes de Adão, Caim e Abel.

Os cidadãos dessa nova sociedade estão sujeitos a queda e ao fracasso espiritual – Gn. 6:1ss. Mas sempre restará um grupo perseverante nos caminhos de Deus – Gn. 6:29; 6: 8-10; 12:1. e.g. Noé e Abraão.


A cidade de Deus está no céu, mas os seus cidadãos estão na cidade dos homens. Até o dia de voltarmos para esta cidade, devemos usar nossa posição para honrar a Deus na liderança secular, e.g. Daniel e José não procuraram transformar seus cargos em catalisadores de transformação de reino humano em teocracia Bíblicas como Israel foi (ou Calvino em Genebra e os Anabatistas radicais em Münster, Alemanha). Pelo contrario, seguiram sua vocação no mundo com excelência e diligencia, ganhando respeito daqueles regentes estrangeiros e melhorando as vidas daqueles sobre quais exerciam autoridade (1 Ts. 4:11). Os crentes são santos por pertencerem a Cristo e não por estar numa esfera da igreja; contudo, vivem no âmbito profano ou comum. Espera-se a diferença na sua crença e procedimento, atitudes e estilo de vida; mas, não se espera que os crentes convertam o ambiente secular em sagrado. e.g. Daniel e José tomavam decisões baseado nas leis babilônicas e egípcias e não judaicas.

Diante de tudo isso, como o cidadão da cidade de Deus deve viver na cidade dos homens?

Como operários do grande mosaico de Deus. Todo nosso trabalho deve ser feito para a glória de Deus. 1 Ts. 4:11; assim como o mosaico é feito de pedaços geometricamente diferentes, também a obra de Deus. Não está na obra de Deus somente quem trabalha na igreja, mas todo que considera e dedica seus afazeres parte de sua adoração a Deus, 1 cor. 10:31; Col. 3:23.

Como proclamadores das virtudes de Deus. 1 Pe. 2:9-10; 3:15.

Como peregrinos. Há um grande risco de viver em dois mundos: ser monges eremitas ou se misturar com as alfarrobas do mundo. Deus não nos chamou para o isolacionismo nem para o mundanismo, porém para ser sal da terra e luz do mundo. Um dos grandes desafios do cristão é viver numa sociedade totalmente diferente de sua real pátria. Abraão peregrinou pela fé porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador Hebreus 11:9-10.

Nas palavra do hino “a bela cidade”:

Tenho lido da bela cidade,
construída por Cristo nos céus;
é murada de jaspe luzente
e juncada com áureos troféus
e no meio da praça eis o rio do vigor e da vida eternal;
mas metade da glória celeste jamais se contou ao mortal


Tenho lido das belas muralhas
que Jesus foi no céu preparar,
onde os crentes fiéis para sempre mui felizes irão habitar.
Nem tristeza nem dor nem gemidos entrarão
na mansão paternal;
mas metade da glória celeste jamais se contou ao mortal

Tenho lido das vestes brilhantes
das coroas que os santos terão
quando o pai os chamar e disser-lhes:
Recebei o eternal galardão.
Tenho lido que os santos na glória
pisarão ruas de ouro e cristal;
mas metade da glória celeste jamais se contou ao mortal

Postado por Francimar

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