sexta-feira, 16 de maio de 2008

Jesus e a verdadeira interpretação do Antigo Testamento

Jesus e a verdadeira interpretação do Antigo Testamento

Quando o estudioso do Antigo Testamento se depara com a cultura hebraica, através de seus manuais de ética, como o midraxe, logo percebe que é impossível dissociar as leis das suas devidas interpretações dadas pelos rabinos e escolas rabínicas. O que estes manuais fazem é uma espécie de camada protetora que envolve as leis do Antigo Testamento em interpretações, muitas delas esdrúxulas, criadas para absorver os questionamentos, críticas e indisposições para cumprir a lei. Dessa forma, o crente cumpria mais as interpretações do que os mandamentos em si mesmos.
Assim, quando a lei dizia que se devia guardar o sábado, as interpretações “legislavam” sobre os detalhes diários no shabat: quantas léguas podia-se andar? O que fazer se uma galinha botasse um ovo? Se um jumento caísse numa fenda? O que podia cozinhar e o que não? Quando a lei falava sobre repudiar a esposa, as interpretações eram variadas e algumas absurdas, a exemplo do Rabi Akiba que permitia o divórcio caso o marido encontrasse uma mulher mais bonita. Os exemplos poderiam se multiplicar, mas basta para dizer que a lei do Antigo Testamento havia sido coberta por costumes e tradições com alto teor religioso, na maioria das vezes, incorreto e impraticável.
Quando Jesus veio, as camadas ou cascas foram quebradas e a lei divina foi, verdadeiramente, interpretada e cumprida em sua vida e ministério. Jesus afirma desde o inicio de seu ministério que não veio revogar a lei, mas ainda assim afirma no sermão do monte: “os antigos disseram isso, eu porém vos afirmo”. O que Jesus coloca em xeque não é a lei, mas as interpretações dos rabinos e escolas de fariseus. Os mandamentos morais foram reinterpretados por Cristo. O cunho profundo e mais que literal dado por Jesus demonstra o erro que os antecessores tinham cometido. Para o mestre, matar, adulterar, amar ao próximo, orar, jejuar, dar esmolas são mais que meras atitudes convencionais e pragmáticas, elas ganham um caráter novo: o intencional.

A igreja e a escatologia

Conceitos, aparentemente novos, como a igreja e a escatologia estão, de modo embrionários, nas páginas do Antigo Testamento. “O dia do Senhor” de Joel demonstra que os judeus estão prestes a perder a primogenitura para a igreja, pois aquele dia não seria de salvação apenas para os judeus, mas para todo aquele que invocar o nome do Senhor. Os interpretes do Antigo Testamento eram tão patriotas, quanto o profeta Jonas, que não admitiam seu povo perder a eleição de Deus, e assim iludiram a nação com falsas promessas e interpretações.
Jesus não nega ou mente a respeito de um novo povo detentor das promessas de Deus. Ele afirma claramente que vai edificar a sua igreja, e não restabelecer Israel. Isso, contudo, não significa que a igreja fosse um ensino totalmente novo/inédito; antes tomou forma com a interpretação do nosso bendito salvador. O conceito de igreja está contido no Antigo Testamento, Jesus dá forma e essência a esse ensino.

As intensas perseguições sofridas pelos judeus fizeram com que eles direcionassem a sua escatologia para a esperança de libertação. A literatura apocalíptica, escrita nos tempos de opressão, tem esse tema em comum: Deus iria intervir a qualquer momento para livrar seu povo da dura opressão. Essa escatologia é uma má interpretação de Daniel e Ezequiel. Uma análise tendenciosa aos interesses imediatos do povo.
Jesus dá uma nova interpretação na escatologia, tendo por base Daniel. Evidentemente, o Senhor profetizou verdades alheias ao Antigo Testamento, contudo, a igreja e o fim do mundo já haviam sido anunciadas, de modo incompleto, nas paginas vetero-testamentária, mas interpretadas erradamente pelos leitores e professores da lei. A escatologia de Jesus não é apocalíptica, mas verdadeira, mesmo que para isso ele tenha que dizer palavras duras a respeito do seu próprio povo.

Os milagres

Os milagres de Jesus têm por finalidade revelar que o tempo do reino é chegado. Os milagres, em si mesmos, não eram de um caráter inédito no ministério do Senhor. Alias, o povo de Deus havia presenciado tantos milagres no passado ao ponto de sofrerem quando Javé resolveu cessar os sinais no período inter-testamental. Pode-se perceber que há algumas analogias entre os sinais de Jesus e os milagres do A.T.
A ressurreição de Lázaro assemelha-se a ressurreição do filho da viúva de Sarepta e ao episódio do homem que ressuscitou ao tocar no cadáver de Eliseu; O caminhar sobre as águas por Jesus tem uma fraca analogia com o fato de Eliseu fazer o machado, emprestado de um dos seus discípulos, flutuar, sendo que em ambos os sinais está a capacidade de controlar a água e quebrar a lei da natureza para criar fé nos que vêem e ouvem o acontecimento; A multiplicação de pães e peixes encontra eco nos episódios do maná e das codornizes.
Novamente, os exemplos poder-se-iam multiplicar, no entanto, o que se pretende afirmar é a finalidade dos sinais no ministério de Jesus. O sentido não era apresentar algo inédito, mas cumprir uma profecia em particular: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a por em liberdade os algemados”. Assim, ao dizer que Jesus não trouxe algo exclusivamente novo em relação aos milagres não se está insultando o trabalho árduo do mestre, mas levando em consideração o objetivo que o Senhor levou a sério: usar os milagres para chamar atenção e servir como marco zero para sua igreja.
Por isso, os milagres não eram novidades para um povo que pedia sinais enquanto os gregos clamavam sabedoria. O caráter novo era a manifestação da chegada de uma nova era; o reino havia sido transferido para outro guardião, i.e. a igreja. A chegada dessa nova fase no plano de Deus foi inaugurada com os milagres, mesmo que sempre tenha sido uma realidade na vida do Judeu.

O ensino

A pedagogia de Jesus é, sem sombra de dúvida, o modelo e inspiração para os discípulos de todas as épocas. Entretanto, não é diferente daquela usada na sua época. Observe que o uso de parábolas, enigmas, ditos, exemplos verdadeiros, denúncias foram largamente usadas pelos profetas e professores antes dEle.
O conteúdo dos seus ensinos são novos, como já foi dito, no sentido da correta interpretação. O Senhor Jesus foi audacioso ao ponto de dar sua interpretação sobre os assuntos essenciais da vida, ética, morte, eternidade, diferentes da interpretação vigente. Quando Jesus terminava suas preleções as multidões ficavam maravilhadas, i.e. como se tivessem levado uma grande pancada na cabeça. A razão disso era porque ele ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas, meros repetidores de ensinos impraticáveis e tradicionais.
As mensagens de Jesus foram bem assistidas. Houve caso das multidões passarem dias esperando pelos ensinos de Jesus, outra vez ouviram o mestre da proa de um barco, no apertado de uma casa, enfim em lugares inóspitos e incômodos para hoje, não o era para o auditório do Senhor. O que atraía as pessoas para ouvir ouvi-lo? A quebra com o senso comum. Ele não era um tagarela, repetidor de ensinos de uma escola rabínica, mas tinha autoridade de dar sua própria versão, i.e. a verdadeira, o que ajudava as pessoas em suas reais necessidades.

A igreja moderna e a interpretação de Jesus.

Tendo dito isso, não se quer reduzir a vida e obra de Jesus às interpretações que ele fez do Antigo Testamento. O messias significa a fonte de toda nossa compreensão das escrituras, pois com toda veemência afirma-se que a vida e a obra do messias foram inigualáveis, irreproduzíveis e incomparáveis. O Antigo Testamento nada mais é do que sombra daquilo que haveria de se manifestar em carne, Jesus. Ele tabernaculou entre nós, foi a verdadeira luz e pão da vida, o bom pastor e a porta das ovelhas. Enfim Jesus é o cumprimento perfeito de todas as esperanças de Deus para o seu povo, tanto no passado como para a nova aliança.
Dessa forma, pode-se categoricamente dizer que Jesus não trouxe nada exclusivamente novo em seu ministério. Jesus usa os recursos da antiga aliança para iniciar seu ministério, ele não toma algo extraordinário ou inédito para construir um ministério, mas, ao falar de assuntos conhecidos, dá um caráter novo pela verdade interpretada na sua vida e obra.
A interpretação de Jesus foi tão crucial que o leitor ou pregador moderno jamais pode estudar o Antigo Testamento sem comparar com as palavras de Jesus. Essa interpretação tornou-se a regra para entender o Antigo ou o Novo Testamento.
Seitas e ensinos heréticos estão entrando na igreja moderna pela porta da compreensão errada daquilo que Jesus ensinou. Que o ensino e vida de Jesus continue sendo o modelo para a igreja se comportar diante de um mundo tão mal, que prende e sufoca toda atitude de buscar a Deus.

Pr. Francimar Lima

Um comentário:

Anônimo disse...

Fala rapaz, finalemente tivemos a oportunidade de apreciar uma obra sua. Foi muito bom. Gostei muito. Parece um pouco com minha monografia. Um abraço. Roberto