terça-feira, 18 de novembro de 2008

Os significados de Amor na Bíblia (Parte 1)

O amor na Bíblia, como no nosso uso diário, pode ser dirigido de pessoa à pessoa ou de uma pessoa a coisas. Quando dirigido em direção a coisas, o amor significa gostar ou tomar o prazer naquelas coisas. O amor em direção a pessoas é mais complexo. Como com coisas, amando pessoas pode significar simplesmente gostar delas e tomar o prazer nas suas personalidades, aparências, realizações, etc. Mas há outro aspecto do amor interpessoal que é muito importante na Bíblia. Há aspecto do amor por pessoas que não são atraentes ou virtuosas ou produtivas. Neste caso, o amor não é um prazer em que uma pessoa é, mas um compromisso profundamente sentido à ajudá-lo a ser o que ela deveria ser. Como veremos, o amor por coisas e ambas as dimensões do amor por pessoas são ricamente ilustrados na Bíblia.

Quando examinamos o Antigo Testamento e o Novo Testamento à sua vez, o nosso foco estará no amor de Deus, depois no amor do homem por Deus, o amor do homem pelo homem e o amor do homem pelas coisas.

O Amor no Antigo Testamento

Jesus disse que o maior mandamento no Antigo Testamento era: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma” (Mt 22:37; Dt 6:5). O segundo mandamento era: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22:39; Lv 18:19). Depois Ele disse: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:40). Isto deve significar que se uma pessoa entendeu e obedeceu estes dois mandamentos, ela compreenderia e cumpriria o que todo o Antigo Testamento estava tentando ensinar. Tudo no Antigo Testamento, quando propriamente entendido, almeja basicamente a transformação de homens e mulheres em pessoas que fervorosamente amam a Deus e ao seu próximo.

O Amor de Deus

Você pode dizer o que uma pessoa ama, por aquilo que ela mais se dedica apaixonadamente. O que uma pessoa valoriza mais é refletido nas suas ações e motivações. É evidente no Antigo Testamento que o que Deus mais valoriza, mais ama, é o Seu próprio nome. Do início da história de Israel ao fim da era do Antigo Testamento, Deus foi movido por este grande amor. Ele diz através de Isaías que Ele criou Israel “para Sua glória” (Is 43:7); “Tu és o meu servo, és Israel, por quem hei de ser glorificado” (Is 49:3).

Deste modo quando Deus livrou Israel da escravidão no Egito e os preservou no deserto, foi porque Ele estava agindo por causa do Seu próprio nome, “O que fiz, porém, foi por amor do meu nome, para que não fosse profanado diante das nações” (Ez 20:9, 14, 22; Cf Ex 14:4). E quando Deus expulsou outras nações da Terra Prometida de Canaão, Ele estava “fazendo para si mesmo um nome” (2 Sm 7:23). Então finalmente no fim da era do Antigo Testamento, depois que Israel tinha sido levado para cativeiro na Babilônia, Deus planeja apiedar-se e salvar Seu povo. Ele diz: “Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha honra me conterei para contigo... Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem.” (Is 48:9, 11 Cf. Ez 36:22, 23, 32). Por estes textos nós podemos ver o quanto Deus ama Sua própria glória e quão profundamente está comprometido em preservar a honra de Seu nome.

Isto não é algo mau da parte de Deus. Ao contrário, a Sua própria retidão depende na Sua manutenção de uma plena lealdade ao valor infinito de Sua honra. Isto é visto nas frases paralelas de Sl 143:11, “Vivifica-me, SENHOR, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira da tribulação a minha alma”. Deus cessaria de ser justo se Ele cessasse de amar Sua própria glória sobre a qual Seu povo deposita toda sua esperança.

Uma vez que Deus se compraz tão intensamente em Sua glória – a beleza de Sua perfeição moral – é de se esperar que se compraza nas reflexões desta glória no mundo. Ele ama a retidão e a Justiça (Sl 11:7; 33:5; 37:28; 45:7; 99:4; Is 61:8); “Eis que te comprazes na verdade no íntimo” (Sl 51:6); Ele ama Seu santuário onde é adorado (Ml 2:11) e Sião, “a cidade de Deus” (Sl 87:2, 3).

Todavia, sobre todas as coisas no Antigo Testamento, o amor de Deus por Sua própria glória O envolve num compromisso eterno com o povo de Israel. A razão que isto é desta forma: é que um aspecto essencial da honra de Deus é a sua liberdade soberana na escolha de abençoar o indigno. Tendo escolhido livremente estabelecer uma aliança com Israel, Deus glorifica-Se na manutenção de um compromisso de amor para com este povo. A relação entre o amor de Deus e a Sua eleição do povo de Israel é visto nos seguintes textos:

Quando Moisés quis ver a glória de Deus, Deus respondeu que proclamaria Seu glorioso nome à ele. Um aspecto essencial do nome de Deus, Sua identidade, foi então dada nas palavras: “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer.” (Ex 33:18, 19). Em outras palavras, a liberdade soberana de Deus em dispensar misericórdia sobre quem lhe apraz é integral ao Seu ser como Deus. É importante agarrar esta auto-identificação porque ela é a base da aliança estabelecida com Israel no Monte o Sinai. O amor de Deus por Israel não é uma resposta divina respeitosa à uma aliança; pelo contrário, a aliança é uma expressão gratuita e soberana de misericórdia ou amor divino. Lemos em Êxodo 34:6-7, como Deus plenamente se identifica antes de confirma a aliança (Ex 34:10): “E, passando o SENHOR ... clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado...”

Assim a aliança Mosaica, na qualidade de juramento de Deus com os primeiros patriarcas (Dt 4:37; 10:15), foi arraigado no amor gratuito e gracioso de Deus. É errado, portanto, dizer que a Lei Mosaica é algo mais contrário a graça e a fé do que são as ordens do Novo Testamento. A Lei Mosaica exigiu um estilo de vida compatível com a aliança misericordiosa que Deus tinha estabelecido, mas isto também providenciou perdão de pecados e assim não colocou o homem sob uma maldição por causa de uma única falta. A relação que Deus estabeleceu com a nação de Israel e o amor que Ele tinha por ela foi comparado como aquele entre um marido e esposa. “Passando eu por junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; estendi sobre ti as abas do meu manto e cobri a tua nudez; dei-te juramento e entrei em aliança contigo, diz o SENHOR Deus; e passaste a ser minha” (Ez 16:8).

Isto é o porquê a idolatria que a nação de Israel comete mais tarde é chamada de adultério, pois ela foi após outros deuses (Ez 23; 16:15; Os 3:1). Mas apesar das repetidas infidelidades de Israel para com Deus, Ele declara: “Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jr 31:3; Cf. Os 2:16-20; Is 54:8).

Outras vezes, o amor de Deus pelo Seu povo é comparado a de um pai pelo filho ou de uma mãe por sua criança: “guiá-los-ei aos ribeiros de águas, por caminho reto em que não tropeçarão; porque sou pai para Israel, e Efraim é o meu primogênito” (Jr 31:9, 20). “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Is 49:15, 66:13).

No entanto, o amor de Deus pela nação de Israel não exclue severo julgamento sobre a mesma quando esta caiu na incredulidade. A destruição do Reino do Norte pela Assíria em 722 a.C (2 Rs 18:9, 10) e o cativeiro do Reino do Sul na Babilônia nos anos seguintes a 586 a.C (2 Rs 25:8-11) mostram que Deus não toleraria a infidelidade de Seu povo. “Porque o SENHOR repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem” (Pv 3:12). De fato, o Antigo Testamento encerra-se com muitas das promessas de Deus não cumpridas. A pergunta de como o amor imortal de Deus por Israel se expressará no futuro é buscada no Novo Testamento por Paulo. Veja especialmente Romanos 11.

A relação de Deus para com Israel como nação, não significava que Ele não tinha lidado com indivíduos, nem Seu tratamento da nação como um todo O preveniu de fazer distinções entre indivíduos. Paulo ensinou em Romanos 9:6-13 e 11:2-10, que já no Antigo Testamento “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas”. Em outras palavras, as promessas do amor de Deus a Israel não se aplicaram sem distinção a todos os indivíduos israelitas. Isto nos ajudará entender os seguintes textos: “O caminho do perverso é abominação ao SENHOR, mas Este ama o que segue a justiça” (Pv 15:9). “O Senhor ama aqueles que odeiam o mal” (Sl 97:10). “o SENHOR ama os justos” (Sl 146:8). “Não faz caso da força do cavalo, nem se compraz nos músculos do guerreiro. Agrada-se o SENHOR dos que O temem e dos que esperam no Seu constante amor” (Sl 147:10, 11; 113:13).

Nestes textos, o amor de Deus não é direcionado igualmente à todos. Em seu pleno efeito salvífico, o amor de Deus é desfrutado por “aqueles que esperam no Seu constante amor”. Isto não significa que o amor de Deus não seja grátis e imerecido. Pois de um lado, a própria disposição de temer a Deus e obedientemente esperar nEle é um dom de Deus (Dt 29:4; Sl 119:36) e de outro lado, o apelo do santo que espera em Deus não é ao seu próprio mérito, mas à fidelidade de Deus ao fraco que não tem forças e só pode confiar na misericórdia (Sl 143:28, 11). Portanto, no Novo Testamento (Jo 14:21, 23; 16:27), o pleno desfrutar do amor de Deus é condicional sobre uma atitude apropriada para recebê-lo, isto é, uma confiança humilde na misericórdia de Dele: “Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará” (Sl 37:5).

Daqui a algumas semanas postaremos a segunda parte, deste artigo de John Piper, que falará do Amor do homem para com Deus e do Amor do homem para com o homem.

Tradução: Elias Lima
Fonte: http://www.desiringgod.org/

Um comentário:

Miller disse...

Que grande amor Deus revelou por seu povo Israel. Salvá-lo da escravidão egípcia, guiá-lo com braço forte no deserto e outras centenas de vezes que com poder declarou ao mundo que os amava. É sempre bom ler textos com verdades profundas e claras. Que Deus abençôe o irmão.