segunda-feira, 22 de março de 2010

LUTERO E A ESCRAVIDÃO DA VONTADE - Conclusão

Nós sabemos que este é um assunto que vem desde a idade média, começado por pelágio, que era uma pessoa eminentemente moral, tornou-se um professor de sucesso em Roma, nos fins do século IV. Britânico por nascimento, era um asceta zeloso. Não se pode dizer com certeza se ele era um monge, mas claramente apoiava ideais monásticas. Ele ressaltava a capacidade de o homem dar os passos iniciais em direção à salvação mediante os seus próprios esforços, sem precisar da graça especial. A pedra fundamental do pelagianismo é a idéia do livre-arbítrio fundamental do homem e sua responsabilidade moral. Ao criar o homem, Deus não o sujeitou, como as demais criaturas, a lei da natureza, mas deu-lhe o privilégio sem igual de cumprir a vontade divina mediante a sua própria escolha. Esta possibilidade de escolher livremente o bem acarreta a possibilidade de escolher o mal. Segundo Pelágio, há três aspectos na ação humana: poder (posse), querer (velle) e a realização (esse). O primeiro vem exclusivamente de Deus; os outros dois pertencem ao homem. Sendo assim, conforme a homem age, merece louvor ou censura. Seja a que for que seus seguidores tenham dito, o próprio Pelágio mantinha o conceito de uma lei divina que proclamava aos homens aquilo que devem fazer e que colocava diante deles a perspectiva de recompensas e castigos sobrenaturais. Se um homem desfruta de liberdade de escolha, é pela expressa generosidade do seu Criador; ele deve usa-la para aquelas finalidades que Deus estabelece.

Em segundo lugar, Pelágio considerava a graça apenas coma uma ajuda externa fornecida por Deus. Não deixa lugar para qualquer ação especial interior de Deus sobre a alma. Com a palavra “graça”, Pelágio realmente quer dizer o livre-arbítrio em si ou a revelação da lei de Deus através da razão, que nos instrui naquilo que devemos fazer e que nos propõe sanções eternas. Visto que essa revelação se obscureceu através dos maus costumes, a graça agora inclui a lei de Moisés e o ensino e exemplo de Cristo. Essa graça é oferecida livremente a todos. Deus não faz acepção de pessoas. E somente pelo mérito que os homens avançam na santidade. A predestinação divina opera de acordo com a qualidade das vidas que Deus prevê que os homens terão. Já Santo Agostinho, sacerdote em hipona, África do Norte (391), que ali estabeleceu um mosteiro e, mais tarde, foi ordenado bispo. Acreditava que a Salvação do ser humano dependia inteiramente do eterno decreto de Deus, e que tanto os que são salvos quanto os que são perdidos são predestinados assim. Deus, segundo Agostinho, trabalha tanto no exterior do homem quanto no seu interior, pois se Deus não o vivificar, tal homem nunca pode, por si só, ser salvo.

Não há dúvidas que Deus é soberano, mas nós não podemos eliminar a responsabilidade humana pela soberania de Deus. É certo que nós não conseguimos conciliar estas duas coisas, pois elas são como duas cordas que puxamos ao mesmo tempo, e que corremos o perigo de puxar mais uma em detrimento de outra. O fato é que até Lutero nesta sua apologia contra o livre-arbítrio, teve que fazer a seguinte consideração:

a nós não compete nos intrometermos na vontade secreta de Deus, pois as coisas secretas de Deus estão inteiramente fora do nosso alcance (1 Tm 6.16). Deveríamos dedicar o nosso tempo considerando o Deus encarnado, o Senhor Jesus Cristo, em quem Deus tornou claro para nós o que deveríamos e o que não deveríamos saber (Cl 2.3). É verdade que o Deus que se tornou carne exclamou: “...quantas vezes quis eu... e vos não o quisestes!” Cristo veio a este mundo a fim de realizar, sofrer e oferecer a todos os homens tudo quanto é necessário a sua salvação. Mas alguns homens, endurecidos por causa da vontade secreta do Senhor, rejeitam-nO (Jo 1.5,11). O mesmo Deus encarnado, entretanto, chora e lamenta-se em face da destruição eterna dos ímpios, ainda que, em sua divina vontade, propositalmente Ele os tenha deixado perecer. Não nos cabe perguntar porquê, mas antes, nos prostrarmos admirados diante de Deus. Neste instante alguns dirão que logo que sou empurrado para um canto, evito enfrentar frontalmente a questão, dizendo que não devemos nos intrometer na vontade secreta de Deus. Entretanto, isso não é invenção minha. Foi dessa maneira que Paulo argumentou em Romanos 9.19,21; e Isaias, antes de Paulo (Is 58.2). E evidente que não devemos procurar sondar a vontade secreta de Deus, sobretudo quando observamos que são justamente os ímpios que são fortemente tentados a fazê-Lo. Nos devemos adverti-los a ficar calados e reverentes. Se alguém quiser levar avante essa forma de inquirição, é bem-vindo a faze-lo; porém, descobrir-se-á lutando contra Deus.

Noutra passagem ele responde a uma suposta pergunta do Por quê Deus não altera a vontade perversa de pessoas como o Faraó? – Ele responde: “Essa questão toca na vontade secreta de Deus, cujos caminhos são inescrutáveis” (Rm 11:33).

É nesta vontade secreta de Deus que nós devemos ter cuidado em fazer qualquer afirmação no que tange ou a soberania de Deus ou a responsabilidade humana, pois há vários versículos que falam da responsabilidade do homem, textos como: Gênesis 4:7 “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” Nós não podemos dizer que Deus estava brincando aqui com Caim, é certo, que como Judas não podia mudar aquilo que Deus tinha previsto na eternidade, mas por outro lado, não podemos culpa a Deus pelo que eles optaram em fazer, pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. (Gálatas 6:7). Logo ele é responsável pelo o que faz. Outra passagem que podemos ilustrar isso está em Mateus 26:24, que diz: “O Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito, mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!” Nós sabemos que Cristo devia vir pois muito tinha sido tido a respeito dELe, que o mesmo morreria e seria sepultado etc. e até foi o próprio Pai que fez isto, ou seja, levando até o calvário o seu próprio filho. Isaías 53:10 “Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos.” E no mesmo verso nós podemos ver que é Ele que dá a Sua própria vida como diz João 10:18, “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.” Apesar de tudo isto, Deus não tira a responsabilidade do ato de Judas, mas diz: “...mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido” .

Sem dúvida, como disse Lutero, estas coisas pertencem a vontade secreta de Deus. Mas algo gostaria de deixar registrado aqui: o fato de eu não acreditar no livre arbítrio, no que diz respeito ao homem poder se salvar – a não ser que Deus aja, senão o mesmo está perdido –, quero deixar claro também a seguinte verdade: Quando todos aqueles pecadores, que aceitaram Jesus, chegarem ao céu, eles dirão: “Foi o Senhor que nos trouxe aqui”; e quando todos aqueles pecadores que rejeitarem a salvação aparecerem no inferno, eles irão dizer: ‘Fomos nós que recusamos a salvação à nós oferecida”. Deus age com misericórdia para com os que são salvos e com justiça para com todos os que perecem.

Soli Deo Gloria

Postado por Elias Lima

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